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segunda-feira, 16 de maio de 2016

Mesmo com ‘inimigos’ da ZFM na equipe, Temer tem aval de empresários do AM



(Portal Acrítica)

Em entrevista, o representante da Fieam/Cieam em Brasília, Saleh Hamdeh, afirmou que a gestão do presidente interino precisa focar no potencial e nas riquezas do Amazonas 15/05/2016 às 16:36 - Atualizado em 15/05/2016 às 16:42
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(Foto: Roque Sá)

As entidades empresariais do estado do Amazonas receberam com boas expectativas a chegada do governo interino do vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), que assumiu após o afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT).
Nem mesmo a presença, no novo governo, de setores e partidos tachados de “inimigos” da Zona Franca de Manaus (ZFM), nem a indicação do ministro da Indústria e Comércio, o pastor licenciado e presidente do PRB, Marcos Pereira, diminuíram as esperanças de mudanças especialmente na área econômica por parte dos industriais da ZFM.
Quem transmite essa expectativa positiva, em relação ao governo Temer, é o representante da Federação e do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam/Cieam), em Brasília, Saleh Hamdeh. A seguir a entrevista.
A classe empresarial do Amazonas ficou incomodada ou fez críticas à escolha do novo ministro da Indústria e Comércio, o pastor licenciado Marcos Pereira, presidente do PRB?
É muito cedo para fazer qualquer tipo de conclusão sobre como o Ministério vai caminhar daqui pra frente, mas alguma coisa a gente já vê como sinalização positiva, coisa que o governo anterior estava muito mais preocupado em atender às demandas locais, do ponto de vista, como o consumo, mas jamais se preocupou com questões estruturantes. Até acredito o Ministério, no primeiro momento, chega enfraquecido, que por conta da composição política, escolheram uma pessoa que não é do ramo, mas o foco do novo governo são os investimentos em infraestrutura para resgatar a competitividade e credibilidade dos investidores. Isto é o mais importante nesse momento.
Há um certo temor com o novo governo com relação à ZFM, visto que é composto por setores e partidos que sempre criticaram o modelo econômico-industrial do Amazonas. O empresariado e suas instituições representativas temem algum tipo de ação que prejudique a ZFM?
É muito cedo para falar alguma coisa, pois, o novo governo só está começando, mas, a impressão que nos dá, o que está se desenhando, é que o governo de Michel Temer vai buscar a governabilidade, embora munido da velha política (distribuição de cargos com os partidos que o apoiaram), essa coalizão é necessária para poder aprovar reformas que são necessárias. O governo passado não se ateve muito a esse tipo de preocupação com relação às reformas; o país não se sustenta no médio e longo prazo se não forem feitas as reformas: política, tributária e previdenciária. A competitividade da produção industrial passa por uma reforma na infraestrutura, investimento pesado em portos, aeroportos, estradas, comunicações entre outras ações. O governo atual demonstra que vai se voltar para isso para tentar resgatar a competitividade.
A reforma tributária, considerada necessária e urgente, mexe diretamente com o modelo ZFM. O senhor acredita que o governo de Temer vai conseguir implementar?
Com certeza, a reforma tributária precisa ser feita, pois, o Brasil tem uma carga tributária altíssima que tira a competitividade da indústria como um todo e precisamos passar essa imagem ao investidor de que o sistema tributário brasileiro é confiável e não traz tantos entraves para a indústria. Logicamente, que qualquer reforma tributária pode ter um impacto na Zona Franca de Manaus porque a nossa base de incentivos fiscais está ancorada no sistema tributário. Não temos outra vantagem, não temos logística, não temos acesso fácil aos mercados, a única vantagem é a tributária. Qualquer reforma tributária que venha a ser feita, pode trazer perda de competitividade. Se a gente conseguir dar uma simplificada no sistema tributário, mais celeridade, transparência, segurança jurídica maior, todo mundo sai ganhando.
Para manter a competitividade dos produtos da ZFM, as indústrias sempre têm reclamado e pedido foco na logística, infraestrutura de transportes, comunicação rápida, energia e diversas outras ações. Como compatibilizar essas demandas?
O modelo do governo anterior era de o Estado fazer o investimento, estar presente diretamente desde o planejamento até a execução. O Estado se mostrou, ao longo dos anos, incompetente para executar esse tipo de investimento que é necessário. O governo atual sinaliza de forma diferente, com maior participação da iniciativa privada, utilizando as parcerias público-privadas (PPPs). É um modelo que deu certo no mundo todo e aqui não poderá ser diferente. O Brasil tem essa atratividade, o que não tem é uma segurança para o investidor; para que possa vir e ter um retorno do investimento que está fazendo. O governo anterior mudou muito as regras na área energética, concessões e isso acabou espantando um pouco o investidor estrangeiro. O governo atual dá um sinal positivo. Agora, nós temos um problema.
No Amazonas? Qual é o problema para implantar essa política que o senhor defende?
Sim, nós temos um problema na Zona Franca. Chama-se viabilidade. O investidor quer viabilidade para construir estradas, portos, aeroportos. A BR-319, por exemplo, dificilmente algum investidor vai colocar recursos nessa rodovia porque não tem retorno, não é viável economicamente. Portanto, o governo precisa sinalizar para uma política diferenciada, pois, no nosso caso, se deixar somente para a iniciativa privada, dificilmente, os nossos gargalos logísticos serão minorados porque sozinhos não têm viabilidade. Ao longo dessas duas últimas décadas, o governo federal acreditava que prorrogando a Zona Franca de Manaus era suficiente para manter o status da forma como está. A gente percebe que não se investiu em absolutamente em nada; não se teve investimento em energia, apesar da introdução ao Sistema Interligado Nacional (SIN) que não conseguiu baratear o preço da energia elétrica; internet banda larga, mão de obra, recursos, mais universidades. A política diferenciada que é por si só a zona de inventivo fiscal, hoje, não se sustenta mais; achar que o governo dando essa política diferenciada já é suficiente, a gente tem visto ao longo do tempo que só se está perdendo.
Então, o que é preciso para aperfeiçoar o modelo, além dos incentivos fiscais?
Todo mundo sabe que a Zona Franca é um modelo dependente tecnologicamente, não temos liberdade tecnológica desenvolvida que possa dizer que estamos ditando tendência e essa dependência nos priva de acessar os mercados. Precisamos desenvolver produtos locais, rotulagem local para ditar tendências e acessar mercado sem a dependência de fora. Hoje, o polo eletroeletrônico é altamente dependente da Ásia, Coréia e China, assim como o polo de duas rodas, descartáveis e químicos. Não temos tecnologia localmente desenvolvida. Temos que olhar para a vocação da nossa região, o potencial, as riquezas que estão a nossa volta, a biodiversidade, piscicultura. Pegar tudo isso é transformar em tecnologia com investimentos no capital intelectual, recursos humanos, planejamento, pesquisa e organização da cadeia produtiva. Temos muito potencial. Quer um exemplo? Não conseguimos sequer fazer rotulagem dos nossos produtos?
O que é essa rotulagem?
Você encontra fécula da mandioca no Brasil todo, em cada esquina há gente vendendo e comprando tapioca; açaí, cupuaçu, palmito de pupunha sendo comercializado em todos os lugares, mas não conseguimos passar a imagem de que esses produtos são genuinamente amazônicos. As pessoas acham que são do Paraná, da Bahia.
O projeto Zona Franca Verde é um braço dessa proposta da revolução tecnológica com arranjos locais?
Não tenha dúvidas. Mas, é bom que se diga que a Zona Franca Verde não trouxe novidade alguma para o Amazonas do ponto de vista da política tributária. Tudo o que foi regulamentado, com benefício aos outros estados da região, nós já tínhamos na Zona Franca de Manaus. O que tem de novo é o foco para a rotulagem dos produtos da floresta, nativos, sem abandonar os demais seguimentos estruturados no Polo Industrial de Manaus, pois, esses setores darão a estrutura necessária para viabilizar e alavancar os novos projetos da Zona Franca Verde, além de sairmos da velha rotulagem e preconceituoso estigma da Zona Franca de Manaus.
Perfil
Nome: Saleh Mahmud Abu Hamdeh
Idade: 53 anos
Profissão: Empresário
Naturalidade: Dracena-SP
Formação: Engenharia Elétrica – Universidade de Mogi das Cruzes-SP (1986); pós-graduação em Engenharia de Produção pela Ufam (1998).
Cargos: Executivo na Philco da Amazônia por 15 anos; executivo na Siemens por oito anos e atualmente é o representante da Fieam e Cieam, em Brasília, desde 2007.
Antônio Paulo

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