A Prefeitura de Manaus vai realocar neste domingo, 1°, a partir das
8h, mais 246 camelôs do Centro Histórico de Manaus. A ação faz parte do
projeto Viva Centro Galerias Populares, que completou um mês no último
dia 23 e já retirou das ruas 1.037 camelôs. Fora das calçadas e de um
comércio irregular, estes comerciantes vivem uma nova fase e estão dando
grande contribuição social no processo de revitalização do Centro
Histórico de Manaus.
Os camelôs sairão das ruas Marquês de Santa Cruz, Rocha dos Santos,
Barés, de parte da Floriano Peixoto, Miranda Leão e Praça Adalberto
Vale. Dentro do processo, eles já têm definidos os espaços das lojas
onde ficarão no Camelódromo da Epaminondas provisoriamente, até que a
segunda etapa da Galeria dos Remédios, na Miranda Leão, Centro, e o
Shopping T4, na zona Leste, estejam concluídos.
Atualmente, 518 comerciantes estão divididos entre as galerias
Espírito Santo, inaugurada em 1° de agosto de 2014, e a dos Remédios,
entregue no dia 25 de outubro do ano passado, ambas no centro da cidade.
Nos espaços provisórios ainda estão 151
camelôs, aguardando a
conclusão da segunda etapa da Galeria dos Remédios e do Shopping T4.
Este terá uma estrutura com 33 mil metros quadrados de área, que além
das mais de 700 lojas e pontos de serviços, também irá oferecer à
população da área atrativos de lazer, como quadras e pistas de
caminhada.
O processo
Para que a saída das ruas fosse uma realidade, todo o planejamento de
ações das realocações anteriores foi coordenado pela Secretaria
Municipal do Centro (Semc), envolvendo reuniões com os trabalhadores e o
cadastramento de 2082 camelôs.
O secretário municipal do Centro, Glauco Francesco, destacou a
formulação do projeto, que concedeu aos trabalhadores diferentes opções
de escolha após a saída das ruas.
“A preocupação do prefeito Arthur Virgílio Neto não foi só
realocá-los, mas fazer isso com um algo a mais, dando-lhes oportunidades
e transformando esses camelôs em microempresários, que passam a
trabalhar em uma estrutura muito melhor do que a rua. Agora, com
segurança, organização e higiene”, explicou o secretário.
Dentro das galerias, uma estratégia adotada para atrair os
consumidores e clientes que estes comerciantes antes possuíam nas ruas
foi o oferecimento de um leque de serviços. Na galeria Espírito Santo,
por exemplo, há um PAC Municipal, casa lotérica, agência bancária
Express e terminal de saque 24 horas. Já a Galeria dos Remédios conta
com praça de alimentação, com mais de 220 lugares, serviços do PAC
Estadual, além de 12 guichês de vendas de passagens fluviais.
Qualificação e formalização
Com relação aos comerciantes já realocados, antes da ação eles
puderam escolher entre ir ou não para um dos camelódromos provisórios
existentes nas avenidas Epaminondas, Miranda Leão e Floriano Peixoto,
enquanto se preparavam para a nova etapa profissional, participando dos
cursos de qualificação ministrados pela Escola de Serviço Público
Municipal (Espi), em parceria com o Centro de Educação Tecnológica do
Amazonas (Cetam). Neste período, eles também receberam mensalmente o
Bolsa Empreendedor, no valor de R$ 1 mil, além de cesta básica.
Dentre as lições nas aulas, “noções de fluxo de caixa”, “técnicas de
gerência” e de atendimento ao cliente. “Essa experiência nos mostrou que
é necessário oferecermos um novo curso, voltado ao marketing, para que
eles aprimorem suas vendas”, destacou a diretora-presidente da Espi,
Luiza Bessa.
Os cursos se estenderam ao processo de formalização, com a
consultoria do Serviço de Apoio as Micro e Pequenas Empresas do
Amazonas (Sebrae), o que garantiu aos comerciantes mais benefícios e uma
nova visão dos negócios.
“Foi um desafio grande trabalhar com esses comerciantes, que
retornaram à sala de aula para aprender técnicas de venda, sobre
finanças e gestão em geral. Eles passaram a se entender como
empresários. Agora, quem se formalizou passa a ser uma empresa, tem
maior facilidade a linhas de crédito e a outros benefícios”, afirmou o
gerente de atendimento do Sebrae, Douglas Mousse.
Oportunidade
Além de uma vaga em um dos três centros de compras (provisórios e
definitivos), a Prefeitura de Manaus também deu aos camelôs a
oportunidade de abertura de um novo negócio. Para isso, era necessário
entregar a banca à Semc, abrir mão de um espaço nos centros de compra,
mas garantindo um financiamento de R$10 mil por meio do Fundo Municipal
de Fomento à Micro e Pequena Empresa (
Fumipeq). O empréstimo foi
oferecido com carência de sete anos e meio para começar a pagar. No
total, 43 pessoas optaram pelo empréstimo.
“Quem optou pelo empréstimo pode ter uma linha de crédito de R$ 10
mil, com carência de sete anos e meio e mais sete anos e meio para
pagar, totalizando 15 anos. Isso com juros de 0,1% ao mês. O Fumipeq tem
transformado não só a vida dos camelôs, como da cidade, uma vez que
custeou as desapropriações e obras das duas galerias entregues”,
destacou o secretário-executivo do Fumipeq, João Augusto Ramos.
Mudança de vida
Wagner Santana, de 27 anos, herdou o negócio do pai e cuidava de uma
banca na avenida Eduardo Ribeiro, comercializando óculos. Ele foi
contemplado com uma loja na Galeria Espírito Santo e, hoje, está feliz
com sua vida de microempreendedor.
“Aquele passado de sofrimento com sol, chuva e descriminação com
o camelô ficou para trás. Hoje, sinto a credibilidade porque está tudo
organizado. Temos acesso a linhas de crédito. Além disso, penso que
quando todos saírem das ruas, a procura por nossos produtos nas galerias
será melhor”, destacou o novo microempreendedor.
Na nova loja, Wagner investiu nos expositores, em óculos de melhor
qualidade e até equipou o local com uma TV, onde o cliente pode assistir
videoclipes enquanto escolhe o produto.
“Exponho meus produtos nas redes sociais e sei que muitos dos meus
clientes compram aqui não só pelo que vendo, mas também pelo
atendimento. Acredito que eles se sentem bem aqui”, enfatizou.
Assim como Wagner, os comerciantes que ganham a permissão de uso de
uma das lojas nos centros de compras têm concessão de 20 anos, podendo
ser prorrogada por mais 20. A concessão garante ainda o direito de
transferir a loja para herdeiros diretos, não podendo vender ou alugar.
O presidente do Sindicato do Comércio de Vendedores Ambulantes de
Manaus (Sincovam), José Assis, destacou a atenção dada pela prefeitura
aos camelôs e acredita que o projeto está avançando dia após dia.
“O projeto até aqui está sendo um sucesso. Quem ainda está nas ruas
vai para uma das galerias em obras, como o shopping T4. Todos estão
inseridos no projeto. Foram 25 anos de trabalho na beira da calçada e
isso não se muda da noite para o dia”, frisou.
Matéria: Ulysses Marcondes
Fotos: Márcio James, Alex Pazuello, Alexandre Fonseca e Altemar Alcântara/Semcom