por Júnia Gama, Isabel Braga, Eduardo Bresciani e Manoel Ventura*
BRASÍLIA — A debandada de partidos da base aliada, que terá peso
decisivo na votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff no
próximo domingo, ganhou nova dimensão na terça-feira com o desembarque do PP,
que tem 47 deputados e havia se tornado a maior legenda aliada desde
que o PMDB rompeu com o Palácio do Planalto. A decisão já começou a
influenciar outros partidos que se encontravam divididos a respeito do
impeachment, provocando um “efeito cascata”: o PRB, com bancada de 22
deputados, fechou posição a favor do afastamento da presidente; e o PR
deve liberar a bancada de 40 deputados para votarem como quiserem.A tendência é que haja impacto também sobre votos no PMDB, que até terça-feira contabilizava 26 indecisos entre os 66 deputados da bancada. Mesmo os peemedebistas mais alinhados ao governo passaram a admitir que, com a decisão do PP, parte desses votos deve se transformar, nos próximos dias, em apoio ao impeachment. Nas contas de um peemedebista desta ala, os votos pró-impeachment podem chegar a 60.
No Palácio do Planalto, a notícia do desembarque do PP e do PRB provocou desânimo. A ordem é continuar investindo no corpo a corpo com os deputados para conseguir votos individuais e evitar que a oposição alcance os 342 necessários para aprovar o processo. Segundo um integrante do governo, no entanto, a presidente ainda conta com votos de um núcleo duro em alguns partidos aliados. Essa conta é feita com base num cruzamento do mapa de votações, fluxo de demandas atendidas e uma análise de comportamento de cada parlamentar.
Na contabilidade do Planalto, segundo um assessor, Dilma teria, após os anúncios do PP e do PRB, cerca de 185 votos, uma vantagem de apenas 13 apoios. Há poucos dias, o governo dizia ter entre 200 e 215 apoios. No levantamento feito pelo GLOBO, o governo tem 110 votos declarados. Outros 304 são favoráveis ao impeachment, e 99 permanecem indecisos ou não opinaram (veja a enquete nas páginas 10 e 11).
Coube ao presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PP-PI), anunciar que o partido deixará o governo formalmente, entregando imediatamente o Ministério da Integração Nacional, comandado por Gilberto Occhi, e a presidência da Companhia de Desenvolvimentos dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).
Nogueira trabalhou para que o partido permanecesse na base aliada e chegou a anunciar, semana passada, que o PP estaria ao lado do governo. Mas, diante da reunião da bancada do partido na Câmara, em que a maioria se manifestou a favor do impeachment, o senador se viu sem alternativa e formalizou o desembarque. A maioria ampla dos presentes à reunião defendeu a saída de Dilma.
— Eu defendia até o momento de hoje a permanência na base da presidente. Mas não me cabe alternativa, como seu presidente, a não ser acatar a decisão. Então, hoje, o partido solicita aos seus quadros que pertencem ao governo da presidente Dilma a carta de renúncia — afirmou Ciro Nogueira.
O senador disse que agora buscará a unidade da bancada em apoio ao impeachment, mas que não haverá sanções a quem votar contra:
— Eu não vejo como, se o partido está tomando hoje a decisão de romper com a presidente, nós permanecermos com cargos. A decisão da bancada é que haja a entrega dos cargos, o desembarque do governo. Mas o partido não vai perseguir ou penalizar qualquer pessoa que, por ventura, divirja — pontuou.
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