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sexta-feira, 21 de março de 2014

Crianças com problemas de surdez



(site prefeitura de Manaus)

A Secretaria Municipal de Educação (Semed) realiza um programa inédito no Brasil que promove a reabilitação auditiva de alunos da rede municipal de ensino e de crianças da comunidade em geral. O programa é realizado por meio da Gerência de Educação Especial (GEE) e também orienta os professores sobre mecanismos de atuação nas salas de aula onde há estudantes que receberam o implante coclear. A orientação estende-se também aos pais sobre como darem continuidade ao processo de educação dentro de casa.

O Programa de Reabilitação de Implante Coclear (PIC) atende 16 crianças, sendo 12 alunos inclusos no ensino regular do município e quatro que não estão ligados à rede. O trabalho inovador garante um suporte às crianças no período pós-implante, dentro do contexto da fonoaudiologia educacional, que auxilia o aluno a desenvolver e compreender a fala.

Em abril deste ano, a Semed comemora um ano da implantação do programa piloto de reabilitação. Aos professores são repassadas orientações quanto às estratégias em sala de aula para alunos usuários do dispositivo e outras dúvidas em geral também são esclarecidas. Outra meta do projeto é dar suporte psicopedagógico para as atividades de escrita e alfabetização.

Desenvolvido no Complexo Municipal de Educação Especial André Vidal Araújo da Semed, localizado na Vila Amazonas, Parque Dez, zona Centro-Sul da capital, o programa conta com uma equipe de profissionais especializados, composta pela fonoaudióloga Mariana Pedrett, a psicóloga Erika Simões e a pedagoga Ana Cristina Batista.

Os atendimentos do PIC ocorrem em grupo todas às quartas-feiras e, para as crianças que necessitam de atendimento especial, há acompanhamento individual ao longo da semana. As atividades ocorrem a partir das 14h, com crianças na faixa-etária de sete a 13 anos, depois são atendidas as de três e quatro anos.

Comportamento
Prematura de cinco meses, Rebeca Vitória Batista, 7, aluna do 2º ano matutino da Escola Municipal Pequeno Príncipe, no bairro São José 1, zona Leste, é umas das crianças que, ao participar do programa de reabilitação, já apresenta  grande evolução no entendimento e na fala. A mãe da menina, Leandra Oliveira Batista, 32, explica que ela fez o implante coclear do lado esquerdo em 2011. No ouvido direito, Rebeca tem uma audição moderada e precisa usar o aparelho amplificador sonoro.

Satisfeita com a evolução, comportamento e linguagem da filha, a mãe comemora os benefícios e afirma que o programa veio para atender a necessidade de continuidade do pós-implante, o que não existe em nenhum lugar do País.

“O projeto tem sido bom para ela, pois antes só ficávamos em casa e ela não tinha o convívio com outras crianças que têm o mesmo problema. Minha filha está evoluindo porque ela percebe que existem outras crianças na mesma situação. Participando do programa, ela se sente feliz ao ver outras meninas usando o mesmo aparelho que ela usa. Com certeza, ela se desenvolve mais convivendo nesse ambiente”, concluiu a mãe, lembrando que o grupo multidisciplinar orienta ainda sobre como deve ser o procedimento em casa.

Outra criança beneficiada do programa, Yamille Victoria Jacauna de Lima, 8, nasceu com problema de surdez profunda e já participa do projeto há um ano. A mãe dela, a nutricionista Arléia Pontes Jacauna, 41, contou que a filha implantou o aparelho nos dois lados do ouvido. Segundo a mãe, que acompanha a criança durante as atividades do PIC, a criança já fala algumas palavras e mostra evolução no comportamento. “A Yamille, depois que começou a fazer sua reabilitação no projeto, melhorou muito em tudo. Ela consegue acompanhar as outras crianças na escola, consegue executar as atividades do dia a dia em casa, ajuda a irmã em casa. Aliás, antes do projeto, minha filha era uma criança imperativa. Ela não tinha paciência com nada. Eu falava, ela não obedecia, mas hoje é outra criança”.

Segundo a mãe, a própria relação com as outras crianças também melhorou. “Ela consegue brincar em grupo, ter bom comportamento nos lugares e percebo que ela está muito bem, apesar do pouco tempo que fez o implante. E sei que ela vai poder encarar a sociedade com uma estrutura melhor a partir do aprendizado aqui”, completou.

Outro caso satisfatório de criança no programa de reabilitação, é de Yasmim Ruth de Souza Andrade, 6, aluna do 1º ano, da Escola Municipal Guilherme Backer, localizada no bairro Santo Antônio, zona Oeste da capital. Desde o início das atividades, Yasmim Ruth apresenta sinais de desenvolvimento na fala e uma autoestima muito grande. Segundo a dona de casa Eliete Castro de Andrade, 58, avó da menina, o trabalho realizado pelo projeto é digno de respeito. Ela comemora o desenvolvimento alcançado pela neta.

“A Yasmim está desde quando iniciou o programa. Não adianta a criança fazer o implante coclear e não ter o profissional responsável para acompanhar, porque se fizer o implante para depois dar sequência no tratamento, será difícil da criança se desenvolver. Ela não falava nada, mas depois que passou a participar das atividades do programa, vem adquirindo conhecimentos. Eu recebo as informações e procuro fazer tudo em casa para ajudá-la”, relatou.

Importância da reabilitação
Um dos pré-requisitos para que a cirurgia seja realizada é o acompanhamento fonoaudiológico (reabilitação auditiva). As crianças realizavam a cirurgia pelo SUS em outros Estados e antes do programa, quando retornavam à Manaus, a maior parte dos implantados não fazia acompanhamento terapêutico. Por consequência, apresentavam dificuldades sérias quanto à alfabetização, uma vez que os professores, por falta de orientação, acreditavam que o implante coclear (IC) fazia a criança “ouvir” de imediato, o que não é verdade. O IC é um recurso significativo, contudo, sozinho, não é capaz de promover aquisição e compreensão da fala.

Origem
O Programa de Reabilitação de Implante Coclear da Semed é oriundo de uma pesquisa de mestrado realizada na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), que contou com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) no ano passado. Segundo a fonoaudióloga Mariana Pedrett, integrante do projeto, o trabalho pioneiro do poder público municipal busca um atendimento que não se encontra em lugar nenhum no país, conforme a pesquisa comprovou. “As crianças no ambiente escolar estão sujeitos a ruídos de cadeira, avião, carro que passa na rua, do ar-condicionado, isso não incomoda muito a gente, que é ouvinte, mas em uma criança com implante é ruim porque ela vai captar todos os ruídos ao mesmo tempo. Essas crianças precisam de vários outros acessórios de frequência modulada (FM). Com o uso do aparelho, a voz do professor vem em primeiro nível e os outros ruídos ficam abaixo”, explicou.

Participação da família
A atividade inaugural do PIC de 2014 foi realizada no dia 12 de março, no Complexo Municipal de Educação Especial da Semed. A professora e pedagoga Erika Simões tem a responsabilidade de trabalhar com os pais para que percebam a importância da participação familiar no processo, o que é considerado fundamental para o sucesso terapêutico com as crianças em casa.

“É uma oportunidade para que as crianças tenham atividades mais consistentes, para que elas sejam adequadas à sociedade de maneira mais efetiva. Se oportuniza o desenvolvimento de regra de convivência, de compreensão do que é se comunicar, da linguagem e suas formas. Por meio de atividades psicopedagogicas, com a participação da fonoaudióloga, pedagoga e a psicóloga, se trabalha esse viés biopsicossocial”, destacou Erika.

A professora e pedagoga frisou a importância do trabalho dos pais na continuidade das atividades. “É solicitado que todas as atividades psicopedagogicas tenham prosseguimento dentro do lar. Percebemos o desenvolvimento das crianças na medida em que os pais efetivamente participam do projeto, de acordo com a solicitação da fonoaudióloga, pedagoga e psicóloga. Depois disso, fazemos grupos operativos com os responsáveis para discussão das suas posturas com relação aos filhos e, dessa forma, percebemos o desenvolvimento da criança”, disse.

O  implante coclear
O implante coclear é um dispositivo eletrônico de alta tecnologia, também conhecido como ouvido biônico, que estimula eletricamente as fibras nervosas remanescentes, permitindo a transmissão do sinal elétrico para o nervo auditivo, a fim de ser decodificado pelo córtex cerebral. O funcionamento do implante coclear difere do Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI). O AASI amplifica o som e o implante coclear fornece impulsos elétricos para estimulação das fibras neurais remanescentes em diferentes regiões da cóclea, possibilitando ao usuário a capacidade de perceber o som. Atualmente, existem no mundo, mais de 60 mil usuários de implante coclear.

Texto: Paulo Roberto Veiga

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