(Portal Acrítica)
De
acordo com familiares do aposentado Francimar Soares, 32, que é surdo, a
falta de um examinador que domine a Língua Brasileira de Sinais
(Libras) prejudicou o aluno, que tenta tirar a CNH desde o ano passado
De acordo com o Detran, o órgão está em fase de aquisição de dois carros adaptados para deficientes físicos
O
aposentado Francimar Soares, 32, tem uma perda auditiva severa, mas a
deficiência dele não o impede de tentar realizar um sonho e se tornar
mais independente no dia a dia: tirar a Carteira Nacional de
Habilitação (CNH) e poder dirigir um veículo.
Mas
ele, que mora no município de Iranduba (a 22 quilômetros de Manaus),
teve o sonho retardado por mais alguns meses por falta de preparo dos
examinadores do Departamento Estadual de Trânsito (Detran/AM), alegam os
familiares dele.
A
esposa de Francimar, Francilene Souza, 32, conta que o marido iniciou o
processo de habilitação para as categorias A e B no ano passado e em
janeiro deste ano realizou os testes práticos nas duas categorias, porém
a inexistência de um examinador especializado na Língua Brasileira de
Sinais (Libras), prejudicou a realização do exame.
'Ele
usa aparelho auditivo, mas como tem perda severa da audição é
necessário que a gente indique, faça gestos para ele compreender o que
estamos falando. Antes de fazer a prova, eu avisei o examinador, porém
ele ignorou a deficiência do meu marido e o reprovou na prova de rua”,
relatou Francilane, acrescentando que no teste de moto o marido não teve
nenhum problema e conseguiu executar o percurso.
De
acordo com Francilene, o problema aconteceu no percurso de carro,
quando o examinador pediu para o aluno trocar de faixa, mas ele não
entendeu o pedido feito verbalmente, e acabou reprovado. “Os
examinadores têm que estar preparados para realizarem provas com
pessoas com deficiência auditiva. Eu avisei sobre a deficiência dele,
mas isso foi ignorado”, reclamou a mulher, que pretende procurar o
órgão, para questionar o resultado.
Outros casos
E
Francimar não é o único a enfrentar esse tipo constrangimento. Isso
porque, em Manaus, apenas uma autoescola treina os instrutores com a
Língua Brasileira de Sinais (Libras), enquanto o Departamento Estadual
de Trânsito (Detran/AM) ainda está em fase de treinamento dos
examinadores, para dominarem o idioma.
Para
a empresária Claudete do Nascimento, dona da autoescola Padrão, única
na capital a atender surdos com aulas teóricas e práticas, com auxílio
de intérprete em Libras, ainda falta muito para que pessoas com
deficiências sejam bem atendidas. “Não adianta a autoescola ter
intérpretes, se no próprio Detran ninguém fala a Libras. O órgão precisa
se preparar para isso desde o teste psicotécnico, nas clínicas, até aos
testes práticos”, explicou. “Isso chateia os alunos surdos, que
enfrentam muitas dificuldades para conseguir obter a CNH”, completou.
Segundo
a empresária, uma das principais queixas dos alunos é referente as
provas de legislação, porque o exame é aplicado todo em português e o
órgão possui apenas um intérprete para tirar dúvidas dos alunos, durante
o exame. “Em outras cidades, os Detrans já estão fazendo provas com
intérpretes de Libras para facilitar o entendimento dos alunos, mas
ainda falta isso aqui”, criticou.
Formação em Libras é novidade
O
diretor-presidente do Detran-AM, Leonel Feitoza, admitiu a deficiência e
afirmou que o órgão está preparando os examinadores para dominarem a
Libras. Este projeto iniciou no fim de 2015 e a meta é de até março
todo o quadro de servidores esteja apto a falar a linguagem de sinais.
“A
procura por CNHs para pessoas com deficiência ainda é baixa, mas
sabemos que essas pessoas têm o direito de dirigir, desde que estejam
aptas para isso. Estamos treinando o nosso pessoal porque isso também é
inclusão social e uma possibilidade a mais para que pessoas entrem no
mercado de trabalho”, ressaltou o diretor-presidente.
“O
aluno que possui deficiência, seja ela física ou auditiva, é submetido a
uma junta médica e psicológica que avalia a condição dele dirigir ou
não”, concluiu.
Licitação
De
acordo com o Detran, o órgão está em fase de aquisição de dois carros
adaptados para deficientes físicos. “Vamos oferecer carros adaptados
para o aluno fazer a aula e assim, vamos baratear o valor cobrado pela
autoescola”, afirmou Leonel Feitoza.
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