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terça-feira, 21 de junho de 2016

Estresse de cerimônia pode ter eliminado efeito de tranquilizante em onça-pintada



(Portal Acrítica)

Pesquisadores do Instituto Mamirauá explicam que droga utilizada pode ter sido ineficaz. Cigs abriu processo para apurar morte de onça Juma, mascote do 1º BIS. Onça foi abatida após ter tentado atacar militar 20/06/2016 às 20:50 - Atualizado em 20/06/2016 às 21:29
Show juma
Juma foi baleada e morreu após ter tentado atacar militar no Cigs (Foto: Luana Leite/Divulgação) 
Oswaldo Neto* Manaus (AM)
Apesar do uso de tranquilizantes no resgate da onça-pintada Juma, que fugiu da jaula após a cerimônia da Tocha Olímpica no Centro de Instrução de Guerra na Selva (Cigs) na manhã desta segunda-feira (20), o alto grau de estresse provocado por um evento como o de hoje pode ter blindado ou diminuído o efeito do medicamento. Quem garante são pesquisadores do Instituto Mamirauá. A onça morreu baleada após ter tentado atacar um militar durante o resgate dela.
Segundo nota emitida pelo Comando Militar da Amazônia (CMA) na tarde de hoje, após o felino ter escapado da jaula, uma equipe composta de veterinários especializados foi deslocada para resgatar o animal. Eles teriam disparado tranquilizantes na onça, no entanto, ela acabou avançando em um militar mesmo com o efeito do medicamento.
“Como procedimento de segurança, visando a proteger a integridade física do militar e da equipe de tratadores, foi realizado um tiro de pistola no animal, que veio a falecer”, informou o comando por meio de nota.
Para o pesquisador do Instituto Mamirauá, Emiliano Ramalho, vários fatores precisam ser observados e investigados sobre o abate de Juma, mascote do 1º Batalhão de Infantaria de Selva (1º BIS Amv). O primeiro deles, segundo Emiliano, é apurar se a equipe de veterinários estava preparada para lidar com o felino. “Teria que investigar se as pessoas tinham experiência, se as drogas eram as corretas”, disse ele.
Na avaliação do especialista, reações como essa são resultado de ações onde o animal selvagem é colocado sob um alto grau de estresse, principalmente do contato com pessoas. “Sou contra. Por mais que sejam dóceis, eles são animais selvagens e não têm controle sobre eles. A onça é um animal de topo de cadeia alimentar. Esse tipo de ataque é uma péssima repercussão para a espécie porque onças não atacam pessoas”, declarou.
Ele também criticou cerimônias com a presença de animais silvestres. “É preciso reavaliar a ideia de que a gente pode ter onça desfilando com pessoas. É um erro e pode ocasionar essas coisas. Nesse caso a onça foi morta, mas poderia ser uma pessoa”.
Estresse pode eliminar efeito
A pesquisadora colaboradora da equipe de felinos do Instituto Mamirauá, Louise Maranhão, explica que o alto grau de estresse provocado por um evento como o de hoje no Cigs pode ter reduzido ou eliminado o efeito do tranquilizante.
“O animal está sob um momento de estresse e aumenta alguns níveis hormonais. Algumas substâncias como o cortisol, por exemplo, então isso interfere no efeito da droga”, disse ela.
Segundo a pesquisadora, drogas comuns costumam demorar até 5 minutos para tranquilizar felinos. “O ideal é manter distância sempre. Só quando o animal estiver naquele pano anestésico é necessário conferir e mexer nele”, disse.
Louise ainda afirma que o estresse poderia eliminar o efeito da droga utilizada. “O estresse é um ponto negativo. Muitas vezes o anestésico nem faz efeito ou diminui o efeito. Dependendo do tipo de droga que foi usado, se o animal está sob estresse, os hormônios lá em cima, às vezes a droga não faz o efeito desejado ou demora mais tempo”.
A assessoria de imprensa do Instituto Mamirauá informou que a droga pode ter sido ineficaz, mas não é possível afirmar se o estresse da cerimônia causou o ataque da onça.
Revezamento
No evento de revezamento dentro do Cigs, os condutores da tocha interagiram com o animal, considerado o mascote do 1º Batalhão de Infantaria de Selva (1º BIS Amv). Eles passaram pelo zoológico do Cigs, seguiram para uma área de selva e acompanharam simulações de sobrevivência.
Segundo a coronel Evelyn, no momento que seria levada para a jaula, a onça-pintada escapou e teve que ser alvejada com um tranquilizador. “Após o evento, no momento em que a onça foi guardada, ela escapuliu da sua segurança. Teve que tomar um tranquilizante. Ela partiu pra cima de um dos militares e teve que ser alvejada com tranquilizante”, disse a militar.
De acordo com o CMA, o Cigs já determinou abertura de processo administrativo para apurar os fatos.
A Tocha Olímpica vem fazendo passagem por Manaus desde ontem, domingo (19), quando percorreu 39 quilômetros de trajeto pela cidade, passando por ruas e avenidas principais e também pontos turísticos como a Ponta Negra e o Teatro Amazonas.
*Colaborou o repórter Vinícius Leal
 

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