(portal Acrítica)
Alunos da escola de Gilberto Mestrinho, José Melo e Eduardo Braga disputam quem segue representando o grupo
Com a disputa no segundo turno entre o governador José Melo (Pros) e o senador Eduardo Braga (PMDB), as eleições para o Governo do Amazonas desse ano já tem um resultado posto: garantiu ao grupo político semeado há três décadas pelo ex-governador Gilberto Mestrinho a manutenção no poder por, no mínimo, mais quatro anos.
Tanto Melo quanto Braga são frutos do projeto de poder arquitetado por Mestrinho em 1983, quando o ex-governador voltou ao Amazonas anistiado e assumiu o governo como o primeiro governador eleito pelo voto direto, pós ditadura.
Além de Melo e Braga, cresceram sob a aba de Mestrinho, e consequentemente chegaram ao posto de governador, nomes como Amazonino Mendes (1987-1990/1995-1998/ 1999-2002) e Vivaldo Frota (1990-1991). E depois da primeira passagem de Braga (2003-2010) pelo poder, o senador eleito Omar Aziz (2010-2014) e José Melo (2014).
Na arquitetura de poder montada por Mestrinho há 31 anos, Amazonino foi o fruto que exerceu maior liderança no grupo após o mestre.
Pelas mãos de Mestrinho, Amazonino garantiu três mandatos de governador e três de prefeito de Manaus.
E está em Amazonino o elo de Melo e Braga com o grupo de Mestrinho. Foi pelas mãos do ex-governador que o governador do Pros e o senador do PMDB chegaram aos postos que ocuparam até aqui no Estado.
Nos governos de Amazonino (1987-1990/1995-1998/ 1999-2002), Melo foi secretário estadual de Cultura, de Educação, de Interior, e de Desenvolvimento Agrário. Nesse mesmo período, foi eleito deputado federal e estadual.
Também como cria da cria de Mestrinho, Braga se elegeu vereador em Manaus, deputado estadual e federal, até se eleger governador em 2002, derrotando o fundador do grupo, e se reelegendo em 2006, vencendo dessa vez seu mentor direto: Amazonino.
Com o declínio de Amazonino, no início dos anos 2000, Melo migrou para o lado de Braga, tornando-se o principal escudeiro do peemedebista até 2010.
Nos sete anos e meio de governo Braga, Melo dirigiu a Sociedade de Navegação Portos e Hidrovias do Amazonas (SNPH) e a secretaria de Governo. E sob as bênçãos do senador, o atual governador foi eleito vice-governador de Omar, em 2010.
Desde o rompimento dos dois (traço comum no modus operandi do grupo nessas três décadas), esse ano, Melo e Braga trocam acusações, e colocam em xeque o caráter e a capacidade do outro de governar o Amazonas.
Adversários são seduzidos
Um dos traços que marcam a trajetória do grupo de Mestrinho e que garante a seus membros o revezamento no poder há três décadas é a cooptação para a sua base das vozes de oposição que surgem pelo caminho.
Josué Filho, que foi adversário de Mestrinho nas eleições de 1982, por exemplo, hoje é presidente do Tribunal de Contas (TCE-AM), e entrou na corte indicado por Braga. O filho, Josué Neto (PSD), reeleito deputado estadual no último dia 5, é presidente da Assembleia (ALE-AM), eleito na administração de Omar.
O PCdoB, de Vanessa Grazziotin e Eron Bezerra - opositores históricos do grupo -, superou as diferenças e participou do governo de Braga e Omar. O mesmo aconteceu com o PT de nomes como Praciano e João Pedro. E agora com o PSB de Serafim.
Comentário: Marcelo Seráfico, Cientista Social
‘Como se fosse um buraco negro’
“Tem algumas características mais gerais que podem ser identificadas nesse grupo. A primeira é que, apesar de ser local, ele está sempre bem articulado com o poder central (Governo Federal). Acredito que nunca tenha acontecido desse grupo ser composto por pessoas que estão em partidos de oposição ao governo central. Uma segunda característica é a enorme capacidade de reciclagem dele. Ele tanto cria suas figuras próprias - de dentro dele nascem novas lideranças (do Gilberto veio o Amazonino; do Amazonino o Braga; ao lado de Braga o Omar, e assim seguiu), como tem uma capacidade de atração enorme. Sujeitos que antes eram distantes se aproximam. São incorporados e passam a reproduzir as mesmas práticas. Esse grupo, mal comparando, é como se fosse um buraco negro, que suga todas as energias dinâmicas da sociedade e as dissipa. É uma base partidária de articulação significativa. Está presente tanto no interior quanto na capital, e com atividade de toda sorte, normalmente muito vinculadas com assistência social. É claro que há nuances de um para outro (membro), em épocas distintas, mas tem essa marca. A marca do Gilberto, com as crianças recebendo cadernos e canetas, do Amazonino com o leite. Então, há um conjunto de práticas que aproximam esse grupo da população, e que acabam repercutindo nos processos eleitorais”.
Replay:Grupo tem histórico de conflitos
1. Trocado por Omar nas eleições de 2002, Melo integrou o secretariado de Braga até ser eleito vice de Omar em 2010.
2. Com a candidatura de Amazonino para o Governo, em 1994, Braga assumiu a Prefeitura de Manaus. Em 1998, os dois romperam.
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