Gol

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

‘Alunos’ de Mestrinho estão há três décadas no poder no Amazonas


(portal Acrítica)

Alunos da escola de Gilberto Mestrinho, José Melo e Eduardo Braga disputam quem segue representando o grupo

                             
Tanto Melo quanto Braga são frutos do projeto de poder arquitetado por Mestrinho em 1983
Tanto Melo quanto Braga são frutos do projeto de poder arquitetado por Mestrinho em 1983 (JORNAL A CRÍTICA )
Com a disputa no segundo turno entre o governador José Melo (Pros) e o senador Eduardo Braga (PMDB), as eleições para o Governo do Amazonas desse ano já tem um resultado posto: garantiu ao grupo político semeado há três décadas pelo ex-governador Gilberto Mestrinho a manutenção no poder por, no mínimo, mais quatro anos.
Tanto Melo quanto Braga são frutos do projeto de poder arquitetado por Mestrinho em 1983, quando o ex-governador voltou ao Amazonas anistiado e assumiu o governo como o primeiro governador eleito pelo voto direto, pós ditadura.
Além de Melo e Braga, cresceram sob a aba de Mestrinho, e consequentemente chegaram ao posto de governador, nomes como Amazonino Mendes (1987-1990/1995-1998/ 1999-2002) e Vivaldo Frota (1990-1991). E depois da primeira passagem de Braga (2003-2010) pelo poder, o senador eleito Omar Aziz (2010-2014) e José Melo (2014).
Na arquitetura de poder montada por Mestrinho há 31 anos, Amazonino foi o fruto que exerceu maior liderança no grupo após o mestre.
Pelas mãos de Mestrinho,  Amazonino garantiu três mandatos de governador e três de prefeito de Manaus.
E está em Amazonino o elo de Melo e Braga com o grupo de Mestrinho. Foi pelas mãos do ex-governador que o governador do Pros e o senador do PMDB chegaram aos postos que ocuparam até aqui no Estado.
Nos governos de Amazonino (1987-1990/1995-1998/ 1999-2002), Melo foi secretário estadual de Cultura, de Educação, de Interior, e de Desenvolvimento Agrário. Nesse mesmo período, foi eleito deputado federal e estadual.
Também como cria da cria de Mestrinho, Braga se elegeu vereador em Manaus, deputado estadual e federal, até se eleger governador em 2002, derrotando o fundador do grupo, e se reelegendo em 2006, vencendo dessa vez seu mentor direto: Amazonino.
Com o declínio de Amazonino, no início dos anos 2000, Melo migrou para o lado de Braga, tornando-se o principal escudeiro do peemedebista até 2010.
Nos sete anos e meio de governo Braga, Melo dirigiu a Sociedade de Navegação Portos e Hidrovias do Amazonas (SNPH) e a secretaria de Governo. E sob as bênçãos do senador, o atual governador foi eleito vice-governador de Omar, em 2010.
Desde o rompimento dos dois (traço comum no modus operandi do grupo nessas três décadas), esse ano, Melo e Braga trocam acusações, e colocam em xeque o caráter e a capacidade do outro de governar o Amazonas.
Adversários são seduzidos
Um dos traços que marcam a trajetória do grupo de Mestrinho e que garante a seus membros o revezamento no poder há três décadas é a cooptação para a sua base das vozes de oposição que surgem pelo caminho.
Josué Filho, que foi adversário de Mestrinho nas eleições de 1982, por exemplo, hoje é presidente do Tribunal de Contas (TCE-AM), e entrou na corte indicado por Braga. O filho, Josué Neto (PSD), reeleito deputado estadual no último dia 5, é presidente da Assembleia (ALE-AM), eleito na administração de Omar.
O PCdoB, de Vanessa Grazziotin e Eron Bezerra - opositores históricos do grupo -, superou as diferenças e participou do governo de Braga e Omar. O mesmo aconteceu com o PT de nomes como Praciano e João Pedro. E agora com o PSB de Serafim.
Comentário: Marcelo Seráfico, Cientista Social
‘Como se fosse um buraco negro’
“Tem algumas características mais gerais que podem ser identificadas nesse grupo. A primeira é que, apesar de ser local, ele está sempre bem articulado com o poder central (Governo Federal). Acredito que nunca tenha acontecido desse grupo ser composto por pessoas que estão em partidos de oposição ao governo central. Uma segunda característica é a enorme capacidade de reciclagem dele. Ele tanto cria suas figuras próprias - de dentro dele nascem novas lideranças (do Gilberto veio o Amazonino; do Amazonino o Braga; ao lado de Braga o Omar, e assim seguiu), como tem uma capacidade de atração enorme. Sujeitos que antes eram distantes se aproximam. São incorporados e passam a reproduzir as mesmas práticas. Esse grupo, mal comparando, é como se fosse um buraco negro, que suga todas as energias dinâmicas da sociedade e as dissipa. É uma base partidária de articulação significativa. Está presente tanto no interior quanto na capital, e com atividade de toda sorte, normalmente muito vinculadas com assistência social. É claro que há nuances de um para outro (membro), em épocas distintas, mas tem essa marca. A marca do Gilberto, com as crianças recebendo cadernos e canetas, do Amazonino com o leite. Então, há um conjunto de práticas que aproximam esse grupo da população, e que acabam repercutindo nos processos eleitorais”.
Replay:Grupo tem histórico de conflitos
1. Trocado por Omar nas eleições de 2002, Melo integrou o secretariado de Braga até ser eleito vice de Omar em 2010.
2. Com a candidatura de Amazonino para o Governo, em 1994, Braga assumiu a Prefeitura de Manaus. Em 1998, os dois romperam.

Nenhum comentário:

Postar um comentário