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sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Ex-diretor da Petrobras detalha esquema de propinas a PT, PP e PMDB em contratos


(portal Acrítica)

Segundo ele, em média 3% do valor do contrato era repassado para partidos políticos que comandavam determinadas diretorias da estatal

Ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa durante depoimento na CPI da Petrobras
Ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa durante depoimento na CPI da Petrobras (Ueslei Marcelino/ Reuters)
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou que grandes empresas fecharam contratos com a estatal por anos com sobrepreço médio de 3%, e que a maior parte do dinheiro foi repassada para PT, PP e PMDB.
Costa disse em depoimento na quarta-feira à Justiça Federal, sob acordo delação premiada, que cerca de 10 "grandes empresas" realizavam um processo de "cartelização" nos acordos de fornecimento à Petrobras.
Segundo ele, em média 3% do valor do contrato era repassado para partidos políticos que comandavam determinadas diretorias da estatal.
"Em relação à diretoria de Serviços, todos sabiam que tinha um percentual dos contratos da área de Abastecimento: dos 3%, 2% eram para atender ao PT", disse o ex-diretor da Petrobras, segundo áudio do depoimento disponível na Internet.
"Outras diretorias, como Gás e Energia e Exploração e Produção, também eram PT", acrescentou Costa, que dirigiu a área de Abastecimento da Petrobras de 2004 a 2012.
Costa declarou que, no caso da diretoria que ocupou, a indicação era do PP e, como os processos de licitação na Petrobras têm de passar pela diretoria de Serviços, os recursos eram repassados ao PP e PT.
"Me foi colocado pelas empresas e também pelo partido (PP) que dessa média de 3% o que fosse diretoria de Abastecimento, 1% seria repassado para o PP e os 2% restantes ficariam para o PT dentro da diretoria (de Serviços)", disse.
"Do 1% que era do PP, em média... 60% ia para o partido, 20% era para despesas... e os 20% restantes eram repassados 70% para mim e 30% para o (ex-deputado federal do PP José) Janene ou o (doleiro) Alberto Yousseff", acrescentou
O ex-diretor disse que Janene, que faleceu em 2010, "conduzia diretamente" a parcela dos recursos que cabia ao PP até meados de 2008, quando o deputado adoeceu e a função que passou a ser exercida por Yousseff, preso na mesma operação em que Costa foi detido, a Lava-Jato. 
Costa afirmou ainda que o operador do PT no esquema era o tesoureiro da legenda João Vaccari.
Em nota, o PT disse que repudia com "veemência e indignação as declarações caluniosas" de Costa e alegou que todas as doações para o partido seguem a lei e são registradas na Justiça Eleitoral.
"O PT desmente a totalidade das ilações de que o partido teria recebido repasses financeiros originados de contratos com a Petrobras", diz a nota.
Em outra nota, a Secretaria Nacional de Finanças do PT afirmou que Vaccari nunca tratou de contribuições financeiras com Costa e que ele tem dado informações "distorcidas e mentirosas" à Justiça.
"Essas acusações, difundidas insistentemente por meio de notícias na imprensa, sem possibilidade de acesso de nossos advogados aos depoimentos, impedem o direito ao exercício constitucional da ampla defesa", diz a nota. "O secretário de Finanças vai processar civil e criminalmente aqueles que têm investido contra sua honra e reputação."
A assessoria de imprensa do PP afirmou em nota que "o Partido Progressista desconhece as denúncias, mas está à disposição para colaborar com todas as investigações".
Procurado, o PMDB informou que não comentará o caso.
Sobre o PMDB, o ex-diretor da Petrobras afirmou que a diretoria Internacional da Petrobras era comandada pelo partido e repassava recursos do esquema à sigla. Segundo Costa, o operador peemedebista era Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano.
No depoimento, Costa disse ainda ter conhecimento de que a Transpetro, subsidiária da Petrobras, também tinha um esquema de repasse de recursos a políticos.
O presidente da Transpetro, Sergio Machado, negou as afirmações do ex-diretor, alegando que são "mentirosas e absurdas". Por meio de nota, Machado ressaltou seu estranhamento com o fato de as declarações serem divulgadas "em pleno processo eleitoral".
No final da tarde, a Petrobras divulgou uma nota sobre as matérias divulgadas sobre os depoimentos de Costa e Youssef, afirmando que "vem acompanhando as investigações e colaborando efetivamente com os trabalhos das autoridades".
"A Petrobras reforça, ainda, que está sendo oficialmente reconhecida por tais autoridades como vítima nesse processo de apuração. Por fim, a Petrobras reitera enfaticamente que manterá seu empenho em continuar colaborando com as autoridades para a elucidação dos fatos."
Mais cedo, havia sido divulgada uma nota assinada pelo diretor de Serviços, José Eduardo Dutra, repudiando a vinculação de seu nome às irregularidades e afirmando que seu nome foi citado somente uma vez por Costa em seu depoimento e sem relação com as denúncias.
No áudio, Costa cita o nome de Dutra ao afirmar que quando tornou-se diretor de Abastecimento em 2004 era Dutra quem presidia a Petrobras.
Costa não citou nomes de políticos que têm prerrogativa de foro, já que essas pessoas têm de ser julgadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e o depoimento foi dado à Justiça Federal do Paraná.
Vazamentos de depoimentos de Costa à Polícia Federal ocorreram em setembro, tornando as denúncias de corrupção na Petrobras um dos temas centrais na campanha eleitoral para a Presidência, que agora está em um segundo turno entre Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, e Aécio Neves (PSDB).

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