(portal Acrítica)
Segundo ele, em média 3% do valor do contrato era repassado para partidos políticos que comandavam determinadas diretorias da estatal
O
ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou
que grandes empresas fecharam contratos com a estatal por anos com
sobrepreço médio de 3%, e que a maior parte do dinheiro foi repassada
para PT, PP e PMDB.
Costa
disse em depoimento na quarta-feira à Justiça Federal, sob acordo
delação premiada, que cerca de 10 "grandes empresas" realizavam um
processo de "cartelização" nos acordos de fornecimento à Petrobras.
Segundo
ele, em média 3% do valor do contrato era repassado para partidos
políticos que comandavam determinadas diretorias da estatal.
"Em
relação à diretoria de Serviços, todos sabiam que tinha um percentual
dos contratos da área de Abastecimento: dos 3%, 2% eram para atender ao
PT", disse o ex-diretor da Petrobras, segundo áudio do depoimento
disponível na Internet.
"Outras
diretorias, como Gás e Energia e Exploração e Produção, também eram
PT", acrescentou Costa, que dirigiu a área de Abastecimento da Petrobras
de 2004 a 2012.
Costa
declarou que, no caso da diretoria que ocupou, a indicação era do PP e,
como os processos de licitação na Petrobras têm de passar pela
diretoria de Serviços, os recursos eram repassados ao PP e PT.
"Me
foi colocado pelas empresas e também pelo partido (PP) que dessa média
de 3% o que fosse diretoria de Abastecimento, 1% seria repassado para o
PP e os 2% restantes ficariam para o PT dentro da diretoria (de
Serviços)", disse.
"Do
1% que era do PP, em média... 60% ia para o partido, 20% era para
despesas... e os 20% restantes eram repassados 70% para mim e 30% para o
(ex-deputado federal do PP José) Janene ou o (doleiro) Alberto
Yousseff", acrescentou
O
ex-diretor disse que Janene, que faleceu em 2010, "conduzia
diretamente" a parcela dos recursos que cabia ao PP até meados de 2008,
quando o deputado adoeceu e a função que passou a ser exercida por
Yousseff, preso na mesma operação em que Costa foi detido, a Lava-Jato.
Costa afirmou ainda que o operador do PT no esquema era o tesoureiro da legenda João Vaccari.
Em
nota, o PT disse que repudia com "veemência e indignação as declarações
caluniosas" de Costa e alegou que todas as doações para o partido
seguem a lei e são registradas na Justiça Eleitoral.
"O
PT desmente a totalidade das ilações de que o partido teria recebido
repasses financeiros originados de contratos com a Petrobras", diz a
nota.
Em
outra nota, a Secretaria Nacional de Finanças do PT afirmou que Vaccari
nunca tratou de contribuições financeiras com Costa e que ele tem dado
informações "distorcidas e mentirosas" à Justiça.
"Essas
acusações, difundidas insistentemente por meio de notícias na imprensa,
sem possibilidade de acesso de nossos advogados aos depoimentos,
impedem o direito ao exercício constitucional da ampla defesa", diz a
nota. "O secretário de Finanças vai processar civil e criminalmente
aqueles que têm investido contra sua honra e reputação."
A
assessoria de imprensa do PP afirmou em nota que "o Partido
Progressista desconhece as denúncias, mas está à disposição para
colaborar com todas as investigações".
Procurado, o PMDB informou que não comentará o caso.
Sobre
o PMDB, o ex-diretor da Petrobras afirmou que a diretoria Internacional
da Petrobras era comandada pelo partido e repassava recursos do esquema
à sigla. Segundo Costa, o operador peemedebista era Fernando Soares,
conhecido como Fernando Baiano.
No
depoimento, Costa disse ainda ter conhecimento de que a Transpetro,
subsidiária da Petrobras, também tinha um esquema de repasse de recursos
a políticos.
O
presidente da Transpetro, Sergio Machado, negou as afirmações do
ex-diretor, alegando que são "mentirosas e absurdas". Por meio de nota,
Machado ressaltou seu estranhamento com o fato de as declarações serem
divulgadas "em pleno processo eleitoral".
No
final da tarde, a Petrobras divulgou uma nota sobre as matérias
divulgadas sobre os depoimentos de Costa e Youssef, afirmando que "vem
acompanhando as investigações e colaborando efetivamente com os
trabalhos das autoridades".
"A
Petrobras reforça, ainda, que está sendo oficialmente reconhecida por
tais autoridades como vítima nesse processo de apuração. Por fim, a
Petrobras reitera enfaticamente que manterá seu empenho em continuar
colaborando com as autoridades para a elucidação dos fatos."
Mais
cedo, havia sido divulgada uma nota assinada pelo diretor de Serviços,
José Eduardo Dutra, repudiando a vinculação de seu nome às
irregularidades e afirmando que seu nome foi citado somente uma vez por
Costa em seu depoimento e sem relação com as denúncias.
No
áudio, Costa cita o nome de Dutra ao afirmar que quando tornou-se
diretor de Abastecimento em 2004 era Dutra quem presidia a Petrobras.
Costa
não citou nomes de políticos que têm prerrogativa de foro, já que essas
pessoas têm de ser julgadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e o
depoimento foi dado à Justiça Federal do Paraná.
Vazamentos
de depoimentos de Costa à Polícia Federal ocorreram em setembro,
tornando as denúncias de corrupção na Petrobras um dos temas centrais na
campanha eleitoral para a Presidência, que agora está em um segundo
turno entre Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, e Aécio Neves
(PSDB).
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