(portal Acrítica)
Após denúncia de 'bolsistas fantasmas', deputados batem boca na ALE-AM
Falas sobre a denúncia de 'bolsistas fantasmas' na ALE-AM e a suspensão da sessão de aprovação do reajuste dos professores, na semana passada, foram o estopim para esquentar o clima entre deputados estaduais na primeira sessão da semana
21 de Maio de 2014
LUCIANO FALBO
IANO FALBO
Um
bate-boca coletivo entre deputados, envolvendo a denúncia de 'bolsistas
fantasmas' e a suspensão da sessão de aprovação do reajuste dos
professores na semana passada, deu o tom da reunião plenária da manhã
desta terça-feira (20) na Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE-AM).
O
bate-boca ocorreu durante o tempo do PT no ‘grande expediente’, após o
deputado Belarmino Lins (PMDB), vice-presidente da Casa, subir à tribuna
para justificar o fato de seus filhos terem usado bolsa de medicina
concedida pelo parlamento – o que é alvo de três ações civis do
Ministério Público do Estado (MPE-AM), que denuncia uso irregular do
benefício.
No
seu discurso, Belarmino Lins disse que não foi ilegal a concessão de
bolsas a pessoas que não eram funcionárias da Casa. Domingo, A CRÍTICA
publicou reportagem sobre uma ação civil do MPE-AM que aponta a
existência de bolsistas fantasmas na gestão de Belarmino à frente da
ALE-AM, uma delas é sobrinha do deputado. Na tribuna, Lins também
confirmou que seus três filhos usaram as bolsas de medicinas bancadas
pela ALE-AM. “Todos tiveram bolsa, todos foram meus assessores porque
não existia a proibição do nepotismo”, afirmou.
O
deputado citou a concessão de bolsa para especialização em gerontologia
– especialidade da medicina que cuida dos idosos –, ao lembrar dos
parlamentares que estão próximos de chegar à terceira idade. “É para
descontrair um pouco o clima. Desarmar os espíritos”, disse.
Em
seguida, o deputado José Ricardo (PT) criticou as colocações de Lins,
que interrompeu o discurso de Ricardo por dois minutos – momento em que
houve um grande bate-boca entre os dois deputados –, quando o presidente
da ALE-AM, deputado Josué Neto (PSD), resolveu intervir e pedir calma
dos parlamentares.
José
Ricardo disse que Belarmino deveria ter humildade, respeito ao dinheiro
público e pedir desculpa à população, enquanto Lins pedia respeito e
dizia que não tinha “cometido nenhum desatino”.
O
petista então prosseguiu. Provocado por Belarmino Lins, ao ser acusado
de ter contribuído para a interrupção da sessão em que seriam votados
projetos de lei da área de educação, criticou a condução dos trabalhos
na ocasião, quando Lins presidia a sessão. Josué Neto por sua vez
rebateu as críticas de Ricardo sobre o tratamento aos professores.
O
deputado Sinésio Campos (PT) sugeriu que José Ricardo estava nervoso
pela decisão do PT de apoiar o senador Eduardo Braga (PMDB) na disputa
pelo Governo do Estado em outubro. Ao ser chamado de “pula-pula” em
resposta de José Ricardo, Sinésio Campos usou da autoridade de
vice-presidente estadual do PT para desautorizar o colega a falar em
nome do partido e sugeriu que ele entregasse a liderança do partido na
ALE-AM.
Blog – Deputado pelo PT, Sinésio Campos

“Pula-pula
não, seu cínico. Me respeite!” Essa foi a tréplica do deputado Sinésio
Campos à resposta do deputado José Ricardo – “Rapaz, você é um pula-pula
e ainda quer falar me criticar. É lamentável” – à sua provocação: “Tem
que dar uma ‘Maracujina’ para o Zé Ricardo. Eu acho que ele teve
pesadelo. Acho que o pesadelo foi a decisão que o PT tomou no final de
semana e ele ainda tá se rebelando”. Sinésio se referia à formalização
do apoio do partido à candidatura de Eduardo Braga (PMDB)ao governo. Na
semana passada, Sinésio deixou de ser líder governador José Melo (Pros)
na ALE após 12 anos na liderança do Governo do Estado em outras duas
gestões (Braga e Omar). Depois de pedir respeito, Sinésio prossegiu: “Eu
sou vice-presidente estadual do partido e a partir de hoje você está
desautorizado para falar em nome do PT aqui na Casa (...) pula pula é o
cinismo de ganhar voto utilizando falso moralismo. O senhor fala em
pseudomoralidade (...). Vossa excelência é o líder do partido aqui e
como líder tem que acatar a decisão do partido. Caso contrário, deixe a
liderança para começar a história”.
Deputado pelo PT, José Ricardo Wendling

“O
senhor tem que respeitar a população”O deputado José Ricardo levou a
capa de A CRÍTICA de domingo com a reportagem sobre a denúncia de
‘bolsistas fantasmas’. E disse que Belarmino tratou o assunto com
“gracejos”.
“O
senhor tem que respeitar a população! Tirar brincadeira aqui com a
população pelo uso indevido de dinheiro público. Isso é uma lástima! Uma
lástima. Eu gostaria, sim que a população soubesse o que está sendo
feito com o dinheiro público”, rebateu o deputado à exigência de
respeito feita por Belarmino.
“O
senhor está usando dinheiro público e ainda acha brincadeira. Botou
todos os filhos para estudar com dinheiro público aqui. E na maior
brincadeira coloca isso como se fosse uma coisa normal, que todo mundo
tem que aceitar e ficar calado. Não é normal isso, não! Não é correto.
Não é ético. Não dá para tirar brincadeiras assim, não. Deveria vir com
humildade pedir desculpas da população para tentar merecer de novo os
votos. Deveria pedir desculpas da população!”, completou.
Sobre
a situação partidária, o parlamentar disse que não pedirá votos a outro
canditado, mas que não é obrigado a pedir para Braga.
Deputado pelo PMDB, Belarmino Linsde Albuquerque

“Não
foi criação minha. Já peguei o bonde andando’Belarmino contestou a
argumentação do MPE-AM de que o curso de medicina não guarda
compatibilidade com a atividade do Poder Legislativo, sem citar a ação
civil do MPE. “Se não há correlação da Assembleia com a área de saúde
porque permitiram fazer concurso para médico, psicólogo, enfermeiro,
dentista, etc?”, questionou. Nenhum dos filhos do deputado formados em
medicina atua no centro médico da ALE-AM.
“A
permissibilidade para quem não era servidor ter bolsa de estudo não foi
da minha criação. Eu já peguei o bonde andando”, disse sobre os casos
dos bolsistas fantasma.
Sobre
as reportagens de A CRÍTICA, o deputado disse que desde 2010 “o café
vem sendo requentado”. “Agora, em 2014, e eu fazendo meu trabalho,
fazendo minha parte. Não sou candidato Copa do Mundo, que ganha eleição,
desaparece e se esconde do povo, não. Estou nos beiradões onde sou
votado, onde tenho compromisso e onde sou votado e eleito”, disse.
Belarmino disse que sempre cumpriu as regras moralizadoras impostas que
proibiram a contratação de parentes ou a livre concessão das bolsas.
Josué diz que ilegalidade não se repete na gestão dele

Para
A CRÍTICA, o presidente da ALE-AM, Josué Neto, afirmou que em sua
gestão não há “bolsistas fantasmas”. “É bom esclarecer que essa denúncia
é de outra gestão que não é a minha”, disse. A ilegalidade foi
identificada nas listas de bolsistas do período de 2005 a 2011. Nesse
intervalo, a ALE-AM foi presidida pelos deputados Belarmino Lins e
Ricardo Nicolau. Hoje Belarmino é vice-presidente e Nicolau é corregedor
da Casa.
A
denúncia de ''bolsistas fantasmas" foi feita pelo promotor de Justiça
Edilson Martins em uma das ações civis que foram entregues à Justiça nos
dias 6 e 12 deste mês. As ações dão continuidade ao trabalho de
investigação feito pela 77ª Promotoria de Justiça Especializada na
Proteção do Patrimônio Público, que no dia 10 de abril ingressou com
outra ação civil contra a ALE-AM e outras dez pessoas também
beneficiadas com bolsas de estudos do curso de medicina. O MPE-AM
considera que o curso não guarda compatibilidade com as principais
atividades da ALE-AM (legislar e fiscalizar), contrariando o que
determina a Lei Estadual nº 2.645/2001. Onze deputados são citados pelo
promotor.
No
bate-boca de ontem, Josué Neto disse que José Ricardo estava mal
informado sobre o tratamento que foi dado aos professores na semana
passada. “Não foram maltratados. Foram muito bem tratados”, disse.
Afirmou que a exigência de documentação é de praxe e que alguns
professores não puderam entrar no plenário porque o local estava lotado.
Sobre
a suspensão da sessão em que se votava o reajuste salarial dos
profissionais, Belarmino disse que deu “tipo um corretivo nesses quatros
gatos pingados que estavam tumultuando aqui o processo de votação e
encerrei a votação”.
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