(portal Acrítica)
Prédio inacabado, na rua Japurá, foi invadido há 15 anos e é o exemplo do problema de déficit habitacional na capital amazonense
Manaus
exibe bem no Centro uma mostra da dura realidade da falta de moradias
adequadas e do pior déficit habitacional do País. Aproximadamente cem
família vivem num prédio público “improvisado” como apartamentos na rua
Japurá, Praça 14 de Janeiro. O improviso dura 15 anos.
De
acordo com estudos da Fundação João Pinheiro, o déficit habitacional
relativo no Amazonas é o pior do País. E Manaus também está no topo do
ranking quando se considera os números relativos (ao total de
domicílios) por capitais.
O
déficit de Manaus é de 22,9%, enquanto capitais mais populosas como São
Paulo e Rio de Janeiro têm índice, respectivamente, índices de 13,3% e
10,3%. A população de São Paulo é de 11, 8 milhões de habitantes e do
Rio de Janeiro de 6, 4 milhões. Manaus tem hoje 2 milhões. O estudo
foi realizado quando os indicadores do IBGE apontavam população da
cidade de 1,8 milhão. Segundo dados do Governo Federal, nos últimos
quatro anos foram entregues 14.335 moradias populares no Amazonas e
outras 30.384 estão em construção.
A
quantidade, no entanto, ficou abaixo da necessidade da população que
engrossa as estatísticas do déficit habitacional. A dona de casa Rose
Souza, 33, mora com o marido, que é ajudante de pedreiro, e duas filhas
adolescentes numa das salas do prédio público na Japurá. Disse que já
fez o cadastro para acesso às casas construídas pela Superintendência
Estadual de Habitação e Assuntos Fundiários (Suhab) várias vezes, mas
nunca foi contemplada. “Eles só dizem que nós não somos prioridade. Só
quem mora em alagado”.
Segundo
o estudo do Ministério das Cidades, o déficit habitacional em Manaus é
evidenciado por meio das seguintes condições: 13.131 domicílios são
considerados precários (rústicos ou improvisados); em outros 54.899 há
situação de coabitação (famílias conviventes com intenção de se mudar ou
residentes em cômodos); também evidenciou-se, no estudo, que 26.801
domicílios representam valor do aluguel superior a 30% da renda
domiciliar total (excedente de aluguel); e 10.756 domicílios são
alugados e tem mais de três habitantes utilizando o mesmo cômodo
(adensamento excessivo).
Histórias em cada habitação
Sem
dinheiro para pagar aluguel após chegarem do município de Codajás em
busca de oportunidades de emprego e atendimento de saúde em Manaus, as
irmãs Jane Rodrigues da Silva, 40, e Leonete Rodrigues da Silva, 37,
dividem hoje uma sala do prédio da Japurá, que “funciona” como duas
habitações.
Jane
veio primeiro e morava numa das salas com o marido e filha. A irmã
começou a enfrentar dificuldade de acesso a tratamento de saúde para o
filho de 14 anos que é portador de deficiência mental. Jane, então,
dividiu o cômodo com a irmã e fez do local duas habitações. Leonete, que
está sem emprego, conta com a ajuda da irmã e dos vizinhos.
A
dona de casa Rose Souza, 33, que é uma espécie de síndica do local,
afirma que tem crianças que já nasceram no prédio e cresceram na
condição de moradia de improviso. O local, embora invadido, é
reconhecido por órgãos públicos. Os Correios, por exemplo, entregam
correspondência nos endereços. Cada apartamento tem seu número.
Estratificação
No
Amazonas, do total de déficit habitacional, 51.082 são de domicílios
precários, 98.252 de coabitação, 31.102 com aluguéis que representam
ônus de mais de 30% do orçamento mensal da família e 13.474 que são
adensamento. Ou seja, mais de três pessoas por cômodo em moradia
alugada.
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