(Portal Acrítica)
O
cenário assusta até quem está acostumado a cortar caminho pela rua
Paranavaí, que cerca o igarapé do 40, no bairro Raiz, Zona Sul
“É
uma paisagem muito horrível, praticamente um rio de merda (sic)”,
reclamou a dona de casa Suelly Viana, 47, enquanto passava pela ponte
que corta o igarapé do 40, no bairro Raiz, Zona Sul. “Para caminhar por
aqui, só tapando o nariz”.
O
cenário assusta até quem está acostumado a cortar caminho pela rua
Paranavaí, que cerca o igarapé. “Moro no bairro Santa Luzia, mas sempre
passo por aqui quando vou trabalhar. Estou perplexo com tamanha
poluição. Falta muita conscientização por parte da população e vontade
do poder público”, comentou o pintor Rui Queiroz, 54.
Segundo
a estimativa mais atualizada do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), a cidade conta hoje com pouco mais de 2 milhões de
habitantes. Apenas 62 localidades (entre bairros e conjuntos
residenciais) possuem sistema de tratamento de esgoto, de acordo com
informações obtidas com a Manaus Ambiental.
A
poluição já atingiu todos os igarapés que cortam a capital e a falta de
saneamento é refletida na paisagem e em números. Uma pesquisa divulgada
pelo Instituto Trata Brasil em abril deste ano colocou Manaus entre os
20 piores municípios no ranking do saneamento. O estudo avaliou os
serviços de água e esgoto dos cem maiores municípios do Brasil.
‘Consequências’
Para
o pesquisador de recursos hídricos do Instituto Nacional de Pesquisas
da Amazônia (Inpa) Sérgio Bringel, o que se vê é a “consequência de uma
ação antrópica (alterações realizadas pelo homem) que está ocorrendo
através da entrada de efluentes domésticos (esgotos) nos cursos d’água”.
Prova
disto, explica Bringel, é que a crosta que está encobrindo as águas do
igarapé exala um odor insuportável, resultado de excrementos humanos
despejados, diariamente, nos igarapés. “Esse odor prejudica a saúde da
população. Quem inala constantemente esse gás pode sofrer com irritação
por conta do enxofre. E se for inalado em alta dosagem, pode se tornar
altamente prejudicial à saúde”, alertou Bringel.
Além
disso, a “crosta” consome oxigênio e ocasiona a mortandade de animais
aquáticos. O processo de fotosíntese também é impedido, pois a luz
solar não penetra nas águas, destruindo fibras e todos os tipos de vidas
aquáticas.
‘Explicação’
Para
uma explicação mais exata sobre os elementos que compõem a crosta que
encobriu o igarapé do 40, uma análise laboratorial seria necessária.
Mas, para Sérgio Bringel, é possível dar uma explicação analisando “a
olho nu”. “Esta crosta está relacionada a excremento humano (fezes)
que se forma nos leitos dos igarapés. Essa matéria orgânica se desprende
do solo e flutua, principalmente quando há aumento do volume de água
ou uma movimentação no leito do rio”, esclareceu, ao apontar que essa
movimentação pode ser causada, por exemplo, por uma forte chuva, como a
que ocorreu no fim de semana em parte da cidade.
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