(Portal Acrítica)
Para eles, falta de controle tecnológico dos materiais utilizados. Os técnicos também afirmaram que manutenção da atual secretária da pasta é lesiva aos cofres públicos
Secretária estadual de Infraestrutura, Waldívia Alencar, preferiu não se defender das acusações feitas contra ela
Engenheiros
do quadro efetivo da Secretaria Estadual de Infraestrutura (Seinfra)
colocaram, ontem (15), sob suspeita a qualidade das obras viárias do
Governo, pela falta de controle tecnológico dos materiais empregados
nelas, e afirmaram que a manutenção da secretária Waldívia Alencar no
cargo causa prejuízo aos cofres públicos.
Cerca
de 30 técnicos estatutários, muitos oriundos do antigo Departamento de
Estrada de Rodagens (Der-am), endossaram uma nota apoiando o depoimento
que um deles, o engenheiro Glaupércio Castelo Branco, deu ao Ministério
Público Estadual em um processo que aponta suposto esquema, na Seinfra,
para abafar irregularidades em obras asfálticas no Amazonas. A nota
afirma que a permanência da secretária no posto é nociva ao Estado.
“É
nociva ao Estado e altamente lesiva ao erário porque as obras são mal
fiscalizadas. Existe empecilho por parte dela que não permite que
possamos fazer as análises devidas nas obras. Ao longo desses sete anos
de administração tem coisa absurdas aqui. O laboratório esta parado e
inútil. É desídia. O laboratório está apto para receber qualquer tipo
de ensaio, porém não é feito nada”, afirmou o engenheiro civil Ary de
Almeida Costa, 63 anos.
Ao ser
questionado se as empresas contratadas pelo governo para gerenciar as
obras não fazem os testes dos materiais, Ary Almeida, que tem 37 anos de
atividade profissional, disse que essas análises falseiam a verdade.
“Os
ensaios que fazem são todos batizados é do interesse delas. Temos que
ter laboratório para aferir a validade dos ensaios, que são falsos,
inventados. Há interesse das empresas que querem faturar. Quanto menos
empecilho melhor. Faturam alto. Há conivência deslavada da secretária
com essas empresas. Muitas não têm idoneidade”, afirmou o engenheiro.
Na
edição de segunda-feira (13), A CRÍTICA noticiou o teor de um processo
movido pela promotora de Justiça Neyde Trindade, sobre irregularidades
em um contrato de R$ 6,1 milhões celebrado entre a Seinfra e a
construtora Ponctual para recuperação de ruas no Município de Codajás.
Segundo a denúncia, do total de 13,892 Km de pavimentação, 5,984 Km
precisam ser feitos ou refeitos, o que correspondem a 43,07% do total.
Depoimento do engenheiro Glaupércio Castelo, aponta movimentação dos
gestores da Seinfra para encobrir as falhas da obra. A promotora pede o
bloqueio de bens da secretária, do subsecretário Roberto Honda e da
Ponctual no valor de R$ 2,6 milhões.
Ontem,
a reportagem ligou para o telefone da secretária Waldívia Alencar
(999xx-xx72). Assim como havia feito no sábado e no domingo, durante a
apuração da matéria, quando a operadora apontou que o aparelho estava
fora da área de serviço. A secretaria atendeu, soube do que se tratava,
xingou o repórter e desligou o telefone.
Controle tecnológico é requisito básico
O
engenheiro civil Renato Antonio Paes Benaion, 64 anos, dos quadros da
Seinfra, explicou que uma obra não pode ser feita sem controle
tecnológico dos materiais empregados nela, sem a análise dos solos. Ele
disse que as caraterísticas desses materiais constam dos projetos
básicos das obras e as empresas, quando vencem os processos
licitatórios, estão cientes dessas exigências.
“Sem
esse controle tecnológico fica impossível fazer uma obra boa. Essas
obras não passam por esse controle, pela análise do asfalto empregado. E
quem fiscaliza isso aqui na Seinfra é uma turma de engenheiros
comissionados, de livre nomeação da secretária. Só tem dois ou três
estatutários que continuam nessa função”, disse.
Na
avaliação dele, apesar de em alguns pontos do Estado haver carência de
jazidas, o problema não é a falta de material. Segundo ele, um projeto
conveniado pela Seinfra para recuperação de ruas no Município de
Japurá, é um dos exemplos de obra com a qualidade comprometida. “O
prejuízo é incalculável. O preço de um quilômetro de obra viária é de
quase R$ 1 milhão. É dinheiro jogado fora. Acho que existe má fé não
querer controlar a obra”, disse Benaion.
Blog: Glaupércio Castelo Branco
Engenheiro Civil dos quadros da Seinfra
“Está
acontecendo um descaso com o dinheiro público. Sou o chefe do
laboratório da Seinfra, especialista em solos e betume. Há um descaso
total com a qualidade técnica na execução de obras rodoviárias e
viárias no Estado do Amazonas. O laboratório está equipado com os
aparelhos necessários para realizar todos os ensaios básicos para
melhorar a vida útil e a observância das normas técnicas das obras. No
entanto, a secretária Waldivia Alencar impediu até hoje o seu
funcionamento", afirma Glaupércio.
"A
estrutura de análise está pronta há uns três anos. Tenho documento
dirigido a ela dizendo que poderíamos fazer todos os ensaios. Mas ela
contratou um consórcio de empresas (EPCJ) por R$ 144 milhões para
gerenciar as obras e fazer um trabalho que a própria secretaria pode
fazer, os exames técnológicos. Já foram pagos em torno de R$ 45 milhões.
São R$ 5 milhões por mês. A secretária optou por contratar uma empresa
particular deixando o laboratório ocioso. Temos alguns equipamentos
oriundos do antigo Der-Am e outros foram comprados. O laboratório fica
embaixo do prédio da Seinfra. Nós queremos que o governador José Melo
faça uma auditoria para ver a qualidade das obras e o dinheiro que foi
jogado fora”, completa o engenheiro.
Em números
R$
991,5 milhões de reais é o valor do orçamento da Secretaria Estadual de
Infraestrutura para este ano. Desse total, R$ 540,1 milhões haviam
sido empenhados (contratados para pagamento) até ontem. Mas apenas R$
160,7 milhões foram pagos. Mais R$ 79,1 milhões de restos do ano
passado foram quitados este ano. Entre as construtoras, a Etam tem
empenhos de R$ 88,8 milhões. E já recebeu R$ 43,2 milhões.
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