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quinta-feira, 16 de julho de 2015

Engenheiros da Seinfra colocam sob suspeita qualidade das obras do Governo do Estado



(Portal Acrítica)


Para eles, falta de controle tecnológico dos materiais utilizados. Os técnicos também afirmaram que manutenção da atual secretária da pasta é lesiva aos cofres públicos

A secretária de Infraestrutura, Waldívia Alencar, questiona postura do Dnit e aponta falhas nos projetos executivos para o AM.
Secretária estadual de Infraestrutura, Waldívia Alencar, preferiu não se defender das acusações feitas contra ela (Marcelo Cadilhe)
Engenheiros do quadro efetivo da  Secretaria Estadual de Infraestrutura (Seinfra) colocaram, ontem (15), sob suspeita a  qualidade das obras viárias do Governo, pela falta de controle tecnológico dos materiais empregados nelas, e afirmaram que a manutenção da secretária Waldívia Alencar no cargo causa prejuízo aos cofres públicos. 
Cerca de 30 técnicos estatutários, muitos oriundos do antigo Departamento de Estrada de Rodagens (Der-am), endossaram uma nota apoiando o depoimento que um deles, o engenheiro Glaupércio Castelo Branco, deu ao Ministério Público Estadual em um processo que aponta suposto esquema, na Seinfra, para abafar irregularidades em obras asfálticas no Amazonas. A nota afirma que a permanência da secretária no posto é nociva ao Estado.
“É nociva ao Estado e altamente lesiva ao erário porque as obras são mal fiscalizadas. Existe empecilho por parte dela que não permite que possamos fazer as análises devidas nas obras. Ao longo desses sete anos de administração tem coisa absurdas aqui. O laboratório esta parado e inútil. É desídia.  O laboratório está apto para receber qualquer tipo de ensaio, porém não é feito nada”, afirmou o engenheiro civil Ary de Almeida Costa, 63 anos.
Ao ser questionado se as empresas contratadas pelo governo para gerenciar as obras não fazem os testes dos materiais, Ary Almeida, que tem 37 anos de atividade profissional, disse que essas análises falseiam a verdade.
“Os ensaios que fazem são todos batizados é do interesse delas. Temos que ter laboratório para aferir a validade dos ensaios, que são falsos, inventados.  Há interesse das empresas que querem faturar. Quanto menos empecilho melhor. Faturam alto. Há conivência deslavada da secretária com essas empresas. Muitas não têm idoneidade”, afirmou o engenheiro.
Na edição de segunda-feira (13), A CRÍTICA noticiou o teor de um processo movido pela promotora de Justiça Neyde Trindade, sobre irregularidades em um contrato de R$ 6,1 milhões celebrado entre a Seinfra e a construtora Ponctual para recuperação de ruas no Município de Codajás. Segundo a denúncia, do total de 13,892 Km de pavimentação, 5,984 Km precisam ser feitos ou refeitos, o que correspondem a 43,07% do total. Depoimento do engenheiro Glaupércio Castelo, aponta movimentação dos gestores da Seinfra para encobrir as falhas da obra. A promotora pede o bloqueio de bens da secretária, do subsecretário Roberto Honda e da Ponctual no valor de R$ 2,6 milhões.
Ontem, a reportagem ligou para o telefone da secretária Waldívia Alencar (999xx-xx72). Assim como havia feito no sábado e no domingo, durante a apuração da matéria, quando a operadora apontou que o aparelho estava fora da área de serviço.  A secretaria atendeu, soube do que se tratava, xingou o repórter e desligou o telefone.
Controle tecnológico é requisito básico
O engenheiro civil Renato Antonio Paes Benaion, 64 anos, dos quadros da Seinfra, explicou que uma obra não pode ser feita sem controle tecnológico dos materiais empregados nela, sem a análise dos solos. Ele disse que as caraterísticas desses materiais constam dos projetos básicos das obras e  as empresas, quando vencem os processos licitatórios, estão cientes dessas exigências. 
“Sem esse controle tecnológico fica impossível fazer uma obra boa. Essas obras não passam por esse controle, pela análise do asfalto empregado. E quem fiscaliza isso aqui na Seinfra é  uma turma de engenheiros comissionados, de livre nomeação da secretária. Só tem  dois ou três estatutários que continuam nessa função”, disse.
Na avaliação dele, apesar de em alguns pontos do Estado haver carência de jazidas, o problema  não é a falta de material. Segundo ele, um  projeto conveniado pela Seinfra para recuperação de ruas no Município de Japurá, é um dos exemplos de obra com a qualidade comprometida. “O prejuízo é incalculável. O preço de um quilômetro de obra viária é de quase R$ 1 milhão. É dinheiro jogado fora. Acho que existe má fé não querer controlar a obra”, disse Benaion.
Blog: Glaupércio Castelo Branco
Engenheiro Civil dos quadros da Seinfra
“Está acontecendo  um descaso com o dinheiro público. Sou o chefe do laboratório da Seinfra, especialista em solos e betume.  Há um descaso total com  a qualidade técnica na execução de obras rodoviárias e viárias no Estado do Amazonas.  O laboratório está equipado com os aparelhos necessários para realizar  todos os ensaios básicos para melhorar a vida útil e a observância das normas técnicas  das obras. No entanto, a secretária Waldivia Alencar impediu até hoje o seu funcionamento", afirma Glaupércio.
"A estrutura de análise está pronta há uns  três anos. Tenho documento dirigido a ela dizendo  que poderíamos fazer todos os ensaios. Mas ela contratou um consórcio de empresas (EPCJ) por R$ 144 milhões para gerenciar as obras e fazer um trabalho que a própria secretaria pode fazer, os exames técnológicos. Já foram pagos em torno de R$ 45 milhões. São R$ 5 milhões por mês.  A secretária optou por contratar uma empresa particular deixando o laboratório ocioso. Temos alguns  equipamentos oriundos do antigo  Der-Am e outros  foram comprados. O laboratório fica embaixo do prédio da Seinfra. Nós  queremos que o governador José Melo faça uma  auditoria para ver  a qualidade das obras e o dinheiro que foi jogado fora”, completa o engenheiro.
Em números
R$ 991,5 milhões de reais é o valor do orçamento da Secretaria Estadual de Infraestrutura para este ano.  Desse total, R$ 540,1 milhões haviam sido empenhados (contratados para pagamento) até ontem. Mas apenas R$ 160,7 milhões foram  pagos. Mais R$ 79,1 milhões de restos do ano passado foram quitados este ano. Entre as construtoras, a Etam tem empenhos de R$ 88,8 milhões. E já recebeu R$ 43,2 milhões.

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