(portal Acrítica)
Uma dos maiores conjuntos de cursos de água de Manaus sofre com a poluição, falta de saneamento e de perspectivas
Apesar da poluição, o pensionista Raimundo Alves não perdeu o
costume de pescar por diversão no igarapé que conhece desde a infância
É
difícil não estranhar a escolha do local da pescaria do pensionista
Raimundo Alves. Na semana passada, ele decidiu passar boa parte da manhã
de quinta-feira pescando no igarapé do Tarumãzinho, que há mais de uma
década sofre com a pressão urbana desordenada, naquela área, e com a
existência de um aterro sanitário público nas proximidades. Mesmo
cercado de lixo, ele garante que não tem receio de permanecer no local,
mas que evita comer o peixe que retira do Tarumãzinho.
O
igarapé compõe a bacia hidrográfica do Tarumã-Açu, que, junto com o
Puraquequara, representam as duas maiores bacias de Manaus. No início de
agosto, o Puraquequara ganhou um comitê que tem a intenção de impedir
que esses recursos hídricos tenham o mesmo destino de outros da capital
amazonense, como as bacias do Mindu e a do São Raimundo. Essas duas
enfrentaram todo um histórico de desenvolvimento da cidade, que cresceu
sem planejamento e, principalmente, sem o cuidado com saneamento e
tratamento de esgoto, segundo o secretário estadual de Mineração e
Recursos Hídricos, Daniel Nava.
“Quando
existe um comitê, este participa da análise das propostas que serão
implantadas na região da bacia, como projetos de instalações
industriais. Desta forma, o comitê colabora com os entes públicos no
sentido de promover ações de controle e gestão daquela área”, explicou
Nava.
Paralisada
Já
a outra bacia, a do Tarumã-Açu, possui um comitê desde 2006. Apesar de
instalado há oito anos, hoje encontra-se em fase de “reformatação da
diretoria”, de acordo com o secretário. Enquanto isso, braços do rio,
como o Tarumãzinho, refletem os efeitos da poluição e da degradação
ambiental. As famílias que residem ali se tornam vulneráveis, sobretudo
às enchentes. A aposentada Rosilda Alves, 81, mora há 30 anos na margem
do Tarumãzinho, e conta que já enfrentou diversos problemas com a cheia.
O sonho dela é que o igarapé fique “sem lixo, sem poluição”.
A
empregada doméstica Soraia Araújo da Silva, que mora na região do
Tarumã, lembra do tempo em que o igarapé era um balneário e as águas
eram limpas e muito procuradas pelo manauara. “Eu tomei banho aqui, meus
filhos também. Hoje, tem dia que o cheio é forte demais, insuportável, e
tem muito lixo. Acabaram com o Tarumãzinho. A prefeitura, o Governo do
Estado, alguém deveria fazer alguma coisa. Mas só vemos o tempo passar e
nada”, disse.
De quem é a culpa?
Na
cachoeira alta do Tarumã, a diferença é que as águas não estão poluídas
como a do Tarumãzinho, embora o lixo possa ser visto facilmente nas
suas margens. Um estudo feito pelos pesquisadoras Ercivan Gomes de
Oliveira e Andréa Rebello da Cunha Albuquerque, da Universidade Federal
do Amazonas (Ufam), com o título “Uso das bacias hidrográficas para a
gestão e planejamento dos recursos hídricos: uma análise socioespacial
na microbacia do Quarenta”, constatou que os moradores “são agentes
explícitos” da poluição hídrica nas bacias hidrográficas de Manaus,
porém, não são a causa principal. “ A ausência de fiscalização e
monitoramento dos órgãos competentes são os principais causadores desta
degradação”.
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