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sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Abandonada há décadas, BR-319



(Portal Acrítica)

Apesar dos desafios, quem convive diariamente com estes percalços tem na BR-319 a esperança de que o progresso seja retomado

É comum o tráfego de  caminhões transportando madeira supostamente ilegal pela BR-319. O maior fluxo é visto nas proximidades do distrito de Realidade, a 17 km de Humaitá, onde o comércio é intenso
É comum o tráfego de caminhões transportando madeira supostamente ilegal pela BR-319. O maior fluxo é visto nas proximidades do distrito de Realidade, a 17 km de Humaitá, onde o comércio é intenso (Márcio Silva)
 
Na época de chuva é só atoleiro. Enquanto que, na seca, o véu de poeira encobre os sonhos, esperanças, oportunidades e buscas por melhores condições de vida. Essas são as condições atuais da BR-319, no trecho que liga Manaus a Humaitá.
Há  décadas a demanda é a mesma e a cena, desgastada, se repete. Na estrada se alternam pequenas manchas de asfalto com o chão de terra batida. A mata toma conta de boa parte dos antigos acostamentos e a erosão estreitou alguns trechos da  rodovia. 
Apesar dos desafios, quem convive diariamente com estes  percalços tem na BR-319 a esperança de que o progresso seja retomado. No último dia 9, a empresa Aruanã Transportes voltou a desbravar a rodovia  para unir municípios do Amazonas e levar desenvolvimento àqueles mais distantes.
A última vez que a empresa operou a linha para o Sul do Estado foi há exatamente 21 anos. Em breve novos roteiros deverão ser lançados. De acordo com o sócio-proprietário  da Aruanã, Eduardo Machado,  a retomada das linhas para o Sul do Amazonas é um grande marco no desenvolvimento do Estado. “O Amazonas não pode ficar refém do isolamento. Não podemos perder essa oportunidade da ligação rodoviária do Amazonas com o restante do Brasil” afirmou.
O superintendente da Agência Reguladora de Serviços Concedidos do Estado do Amazonas (Arsam), Fábio Alho, disse que isso ajuda o Estado, inclusive no ramo econômico. “Estamos gerando emprego e distribuição de renda”, comentou Eduardo. O trajeto de Manaus até Humaitá é estimado em 16 horas. Mesmo com todo esse tempo de viagem, há quem diga que a distância é curta para quem esperou décadas sem transporte.
Para o comerciante Antônio Graça, 65, que reside no Careiro Castanho, localizado no km 102 da rodovia,  o transporte e a pavimentação da BR-319, não são apenas um sonho dele, mas da família e de todas as pessoas que esperaram por melhorias na região e hoje não estão mais vivas para ver o resultado. “É esperança acalentada por muito tempo. Ao menos o transporte chegou”, disse .
Este é o primeiro passo para a integração do Amazonas ao restante do Brasil. A  Aruanã ainda aguarda aprovação da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para fazer a viagem para Porto Velho (RO). A partir daí, o Brasil fica mais próximo, uma vez que  Porto Velho é interliga  a outras cidades do País.
Caminhões que levam a devastação
A BR-319 foi inaugurada com total pavimentação na década de 1970 pelo governo militar para integrar os estados brasileiros ao Amazonas e Roraima, o que somente era possível através dos rios ou por transporte aéreo.
Porém o promissor progresso trouxe máculas e danos ambientais. A falta de monitoramento, até mesmo por conta da dimensão logística, faz com que a ação de grileiros e madeireiras ilegais seja constante. Prova  desse tipo de delito está nos comboios, que cruzam a estrada com frequência.
O pequeno distrito de “Realidade”, a 17 km de estrada de chão da cidade ‘mãe’- Humaitá -, é um dos principais redutos do comércio de madeira. Há mais de dez grandes madeireiras no povoado de apenas 2 mil famílias. O local não dispõe de infraestrutura adequada, principalmente no que diz respeito ao saneamento básico e asfalto. Zacarias Melo, 73, mora na localidade há 30 anos e conhece toda a história da construção da BR-319. “Achávamos que a 319 iria ficar logo pronta, com isso mercados clandestinos como o de madeira se abriram”.
Assim como Zacarias, os moradores da região continuam a conviver com a esperança de que dias melhores virão.
Um paraíso na estrada
Na paradisíaca Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Igapó-Açu (UC Estadual), entre o Careiro Castanho e Borba, no km 250 da BR-319, onde botos vermelhos comem peixe na mão dos moradores, há uma balsa que faz a travessia dos carros e veículos pesado.
Por lá, os moradores têm visões peculiares sobre a rodovia: parte deles argumentam que querem a estrada asfaltada apenas entre Manaus e Igapó Açu, para evitar que a vila de pescadores vire local de passagem. Outros dizem querer tudo asfaltado até Porto Velho. A indígena do povo Mura, Creuza de Assunção, 60, que mora há 30 anos na região, reclama do abandono e do completo isolamento que se impõe em determinadas épocas do ano, por conta das condições da rodovia.
Em números
16 horas  é o tempo estimado da viagem entre Manaus e Humaitá. O trajeto inicia pela  rodoviária da capital, faz travessia do Porto da Ceasa até o Careiro da Várzea, cruzando pelos municípios do Careiro Castanho, Borba, Manicoré e Humaitá.
Solicitação do Ibama
O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) informou que, quanto às solicitações feitas ao Dnit, a decisão foi baseada em relatório concluído em agosto, que apontou a execução de obras sem licença ambiental adequada e outras irregularidades, como a supressão de Área de Preservação Permanente (APP).

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