(Portal Acrítica)
Apesar dos desafios, quem convive diariamente com estes percalços tem na BR-319 a esperança de que o progresso seja retomado
É comum o tráfego de caminhões transportando madeira supostamente
ilegal pela BR-319. O maior fluxo é visto nas proximidades do distrito
de Realidade, a 17 km de Humaitá, onde o comércio é intenso
Na
época de chuva é só atoleiro. Enquanto que, na seca, o véu de poeira
encobre os sonhos, esperanças, oportunidades e buscas por melhores
condições de vida. Essas são as condições atuais da BR-319, no trecho
que liga Manaus a Humaitá.
Há
décadas a demanda é a mesma e a cena, desgastada, se repete. Na estrada
se alternam pequenas manchas de asfalto com o chão de terra batida. A
mata toma conta de boa parte dos antigos acostamentos e a erosão
estreitou alguns trechos da rodovia.
Apesar
dos desafios, quem convive diariamente com estes percalços tem na
BR-319 a esperança de que o progresso seja retomado. No último dia 9, a
empresa Aruanã Transportes voltou a desbravar a rodovia para unir
municípios do Amazonas e levar desenvolvimento àqueles mais distantes.
A
última vez que a empresa operou a linha para o Sul do Estado foi há
exatamente 21 anos. Em breve novos roteiros deverão ser lançados. De
acordo com o sócio-proprietário da Aruanã, Eduardo Machado, a retomada
das linhas para o Sul do Amazonas é um grande marco no desenvolvimento
do Estado. “O Amazonas não pode ficar refém do isolamento. Não podemos
perder essa oportunidade da ligação rodoviária do Amazonas com o
restante do Brasil” afirmou.
O
superintendente da Agência Reguladora de Serviços Concedidos do Estado
do Amazonas (Arsam), Fábio Alho, disse que isso ajuda o Estado,
inclusive no ramo econômico. “Estamos gerando emprego e distribuição de
renda”, comentou Eduardo. O trajeto de Manaus até Humaitá é estimado em
16 horas. Mesmo com todo esse tempo de viagem, há quem diga que a
distância é curta para quem esperou décadas sem transporte.
Para
o comerciante Antônio Graça, 65, que reside no Careiro Castanho,
localizado no km 102 da rodovia, o transporte e a pavimentação da
BR-319, não são apenas um sonho dele, mas da família e de todas as
pessoas que esperaram por melhorias na região e hoje não estão mais
vivas para ver o resultado. “É esperança acalentada por muito tempo. Ao
menos o transporte chegou”, disse .
Este
é o primeiro passo para a integração do Amazonas ao restante do Brasil.
A Aruanã ainda aguarda aprovação da Agência Nacional de Transportes
Terrestres (ANTT) para fazer a viagem para Porto Velho (RO). A partir
daí, o Brasil fica mais próximo, uma vez que Porto Velho é interliga a
outras cidades do País.
Caminhões que levam a devastação
A
BR-319 foi inaugurada com total pavimentação na década de 1970 pelo
governo militar para integrar os estados brasileiros ao Amazonas e
Roraima, o que somente era possível através dos rios ou por transporte
aéreo.
Porém
o promissor progresso trouxe máculas e danos ambientais. A falta de
monitoramento, até mesmo por conta da dimensão logística, faz com que a
ação de grileiros e madeireiras ilegais seja constante. Prova desse
tipo de delito está nos comboios, que cruzam a estrada com frequência.
O
pequeno distrito de “Realidade”, a 17 km de estrada de chão da cidade
‘mãe’- Humaitá -, é um dos principais redutos do comércio de madeira. Há
mais de dez grandes madeireiras no povoado de apenas 2 mil famílias. O
local não dispõe de infraestrutura adequada, principalmente no que diz
respeito ao saneamento básico e asfalto. Zacarias Melo, 73, mora na
localidade há 30 anos e conhece toda a história da construção da BR-319.
“Achávamos que a 319 iria ficar logo pronta, com isso mercados
clandestinos como o de madeira se abriram”.
Assim como Zacarias, os moradores da região continuam a conviver com a esperança de que dias melhores virão.
Um paraíso na estrada
Na
paradisíaca Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Igapó-Açu
(UC Estadual), entre o Careiro Castanho e Borba, no km 250 da BR-319,
onde botos vermelhos comem peixe na mão dos moradores, há uma balsa que
faz a travessia dos carros e veículos pesado.
Por
lá, os moradores têm visões peculiares sobre a rodovia: parte deles
argumentam que querem a estrada asfaltada apenas entre Manaus e Igapó
Açu, para evitar que a vila de pescadores vire local de passagem. Outros
dizem querer tudo asfaltado até Porto Velho. A indígena do povo Mura,
Creuza de Assunção, 60, que mora há 30 anos na região, reclama do
abandono e do completo isolamento que se impõe em determinadas épocas do
ano, por conta das condições da rodovia.
Em números
16
horas é o tempo estimado da viagem entre Manaus e Humaitá. O trajeto
inicia pela rodoviária da capital, faz travessia do Porto da Ceasa até o
Careiro da Várzea, cruzando pelos municípios do Careiro Castanho,
Borba, Manicoré e Humaitá.
Solicitação do Ibama
O
Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) informou que, quanto às
solicitações feitas ao Dnit, a decisão foi baseada em relatório
concluído em agosto, que apontou a execução de obras sem licença
ambiental adequada e outras irregularidades, como a supressão de Área de
Preservação Permanente (APP).
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