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segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Judoca amazonense bronze no Mundial dá volta por cima depois de perder apoio de prefeitura

(Portal Acrítica)

Dos Emirados Árabes, ela conversou com a reportagem e contou como transformou um ano que prometia dificuldades e percalços numa data histórica para o esporte amazonense

Judoca amazonense deu show no Mundial de Abu Dhabi ao ganhar primeira medalha para o Brasil.
Judoca amazonense deu show no Mundial de Abu Dhabi ao ganhar primeira medalha para o Brasil. (Divulgação)
 
No domingo, mais de 48 horas depois de ter conquistado a primeira medalha amazonense em um mundial de judô, Rita de Cássia ainda se dividia entre a lembrança do feito inédito e a vibração na torcida pelos companheiros de seleção brasileira no Mundial Sub-21 de Abu Dhabi, que vai até hoje. “A ficha ainda não caiu que eu medalhei, porque eu estou aqui vibrando, torcendo pros outros (atletas brasileiros). Eu só me toco quando eu volto pro meu quarto, abro meu celular e vejo as fotos. Ainda não me liguei que eu sou uma das três melhores do mundo”, disse, pelo Whatsapp, a jovem de 20 anos que acaba de fazer história no judô amazonense.
Dos Emirados Árabes, onde conquistou a medalha de bronze na categoria super ligeiro (44kg) na última sexta-feira, ela conversou com a reportagem e contou, com a humildade dos verdadeiros campeões, como transformou  um ano que prometia dificuldades e percalços numa data histórica para o esporte amazonense. A medalha heróica que ela diz às vezes ter esquecido que ganhou, talvez só para degustar melhor o prazer de remomorá-la, veio depois de uma duro golpe: a perda do patrocínio municipal – o Bolsa Atleta – alguns meses depois de ter vencido a seletiva para a seleção brasileira, em dezembro do ano passado.
Mesmo com a declaração da Confederação Brasileira de Judô (CBJ) de que a lutadora fazia parte da seleção, o benefício foi negado.
Mesmo indignada, ela não fez estardalhaço, mas sim decidiu pegar pesado nos treinos para provar que o critério de concessão de bolsas estava equivocado. Ela continuou treinando sete horas por dia, seis dias por semana, além de correr atrás de outros apoios para continuar mantendo a preparação de alto nível com foco no Mundial. Há pouco tempo, conseguiu patrocínio da empresa de manutenção predial Costa Rica Ltda., a quem ela atribui grande parcela de contribuição para viabilizar as viagens que fizeram parte de sua preparação para o campeonato, cuja conquista do bronze ela comemora como a realização de um sonho.

Você acaba de fazer história ao conquistar a primeira medalha do judô amazonense em Mundiais. Como tem sido os dias sem competição com a seleção brasileira aí em Abu Dhabi, você já tendo feito seu dever de casa?
A ficha ainda não caiu que eu medalhei, porque eu tô vibrando, torcendo pros outros. Eu só me toco quando eu volto pro meu quarto, abro meu celular e vejo as fotos. Ainda não me liguei que eu sou uma das três melhores do mundo. Eu tô muito feliz e tô curtindo esse momento. Espero que isso traga mudanças na minha vida.

Que tipo de mudanças você espera?
Que abra portas de patrocínios, que eu consiga meu Bolsa Atleta (da Prefeitura de Manaus), que eu fiquei de fora. Na hora não quis comentar nada, porque eu ia deixar chegar o Mundial e mostrar que eu não preciso falar nada, que eu sou melhor, só precisava mostrar. Então eu busquei a medalha pra mostrar um ótimo resultado, pra dizer como sou capaz, e tenho certeza que eu tinha que estar recebendo o Bolsa Atleta.
A quem você dedica essa conquista?
Eu dedico ao Amazonas, à minha família, aos meus amigos de treino, a CBJ (Confederação Brasileira de Judô), que bancou todas as viagens para a Europa (onde chegou a medalhar também no circuito europeu), à (empresa) Cosa Rica, que agora é minha patrocinadora oficial. Quando eles souberam que eu fiquei fora do Bolsa Atleta, eu procurei ajuda, eles me ajudaram, me patrocinaram. Agradeço muito à Costa Rica, que me deu o apoio no momento que eu estava precisando pra vir pro Mundial. E também ao meu clube La Salle e à academia Uni Fitness, onde faço minha preparação física.
O critério do Bolsa Atleta é estar na seleção brasileira. Por que, então, você foi cortada?
A CBJ mandou documento de que eu fazia parte da seleção, que eu competia pela seleção. Eles não aceitaram porque eles queriam a nota oficial, mas eu não tinha nota oficial porque que a  seletiva aconteceu em 2014 e a renovação acontece no meio do ano (ela deixou de receber em julho de 2015).
Bem, isso não explica muito bem. Você questionou?
Sim, mas o que eu posso fazer? Não posso brigar! Tentei falar, não querem me ajudar, vou fazer minha parte. Esqueci isso e bola pra frente. É treinar, correr atrás do que preciso correr, conquistar o que preciso conquistar. Eu não vou parar de treinar em nenhum momento porque vou ficar sem meu Bolsa Atleta. Tentei consegui outros meios pra tentar me ajudar e esquecer isso porque infelizmente o Brasil é assim, Manaus é assim. Não investe em esporte. Infelizmente têm muitos atletas bons que não têm incentivo.
Voltando ao bronze no Mundial. Você diz que às vezes até esquece que ganhou e depois lembra. Como é a sensação de “lembrar”?
Nossa, é muito maneiro lembrar tudo de novo, tu ali no pódio, recebendo a premiação, (saber que) todos seus esforços valeram a pena, que teu sonho tá sendo realizado, parece que tá acontecendo tudo de novo. Nossa, dá muita vontade de chorar! Quando eu cheguei da competição, fiquei acordada até duas da manhã, não conseguia dormir, porque tava muito feliz, ficava imaginando de novo como foi difícil, ficava com vontade de chorar, de querer minha mãe, abraçar minha mãe, dizer que eu amo ela, de querer abraçar meus pais, de curtir esse momento com a minha família!
Eles são sua maior motivação?
Minha motivação, inspiração maior sempre foram meus pais. Me inspiro muito na minha mãe e em meu pai porque eles são muito guerreiros, tudo que eles já fizeram por mim, então eu sempre me inspiro neles.O que fazem seus pais?Minha mãe trabalha com vendas e meu pai é motorista. Eles são tudo pra mim. Me ajudam muito e tenho orgulho deles, por isso só quero dar orgulho também porque eles merecem muito.
Qual seu maior sonho como atleta?
O sonho de todo atleta é a Olimpíada. Em 2020 vai ser ainda mais legal que vai ser em Tóquio no Japão.
Hoje (ontem) está acontecendo o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), e você está em Abu Dhabi curtindo um título mundial. Como é sua relação com o estudo? Pretende fazer faculdade de quê?
Eu estudo (está no 3º ano do ensino médio), mas é difícil conciliar o estudo. Viajo muito mas tento fazer o que eu posso. Tento fazer trabalhos que perdi quando volto de viagem. Não tô muito preocupada porque já tenho faculdade garantida. O esporte abre portas de faculdade e escola boa, então eu tô tranquila nesse aspecto. Quero fazer Educação Física.

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