Profissionais dO AM e de outros Estados do Brasil exortam colegas nas redes sociais a não prescreverem remédios de laboratórios que patrocinaram a campanha petista
Pela
rede social Facebook, médicos estão propondo boicote aos laboratórios
que doaram para a campanha da presidente reeleita, Dilma Rousseff (PT).
Em uma comunidade virtual na rede, intitulada Dignidade Médica, usuários
que se dizem médicos ou estudantes de medicina batizaram o boicote de
‘Operação ABCDE’ – a sigla junta as iniciais das empresas farmacêuticas e
do primeiro nome da presidente (Ache, Biolab, Cristália, Dilma e
Eurofarma).
Em
Manaus, o cirurgião Lano Macedo publicou na sua página e na comunidade
virtual que não receitaria mais medicamentos das empresas doadoras da
campanha petista. O médico escreveu na publicação de 2 de novembro que
os medicamentos desses laboratórios sairiam do seu receiturário de
prescrição “pois, os mesmos (laboratórios) fizeram doações para a
campanha dos PTralhas”. “Vou me solidarizar com o colega e também não
irei mais receber os representantes destas empresas no meu consultório”,
escreveu, ao compartilhar uma carta em que um suposto médico alerta que
também não vai mais receber os representantes das empresas e receitar
os medicamentos.
No
final de sua publicação, o médico orienta seus amigos virtuais: “Vamos
compartilhar o máximo possível, para que os colegas de todo Brasil
saibam o que está acontecendo. Fora Dilma!!!! E leve o PT junto...”.
Apesar disso, o cirurgião afirma que não se trata de um boicote. “Nesse
texto, não tem apologia ao boicote. Se você for ler com calma, vai ver
que é uma opinião pessoal”, disse.
Questionado
sobre ter expressado sua opinião em um espaço público, Lano Macedo
admitiu que não houve “inocência” na publicação. “Se eu tivesse falado
como outros colegas, ‘vamos boicotar, vamos todos entrar em boicote’...
Eu estou falando para você, não há inocência nisso. Eu também não sou
hipócrita. Isso é um movimento e eu participei ativamente do movimento
político. Não sou do PSDB, mas participei desse movimento contra a
candidatura da presidente. Isso é pessoal, e não é pessoal do Lano, é
pessoal de 400 mil médicos brasileiros”, disse.
Lano
Macedo afirmou que raramente recebe visitas de representantes das
empresas. Segundo o médico, não há risco para os pacientes porque o que
estão deixando de prescrever é o nome comercial do medicamento e não sua
base farmacológica. De acordo com o médico, as universidades já ensinam
os alunos de medicina a prescrever a base farmacológica e não o
medicamento. Macedo, porém, reconheceu que alguns medicamentos de mesma
base, mas de laboratórios diferentes podem ser mais eficazes que outros.
“Se você entrar no meu padrão de prescrição, tirando um ou outro
medicamento que você sabe que, realmente, o efeito é aquilo, a maioria é
só base”, disse. O médico afirmou não ser filiado a nenhum partido
político.
‘Prescrevemos princípio ativo’
A
pediatra Patrícia Sicchar, que também atua em Manaus, é uma das
administradoras da comunidade Dignidade Médica, afirma que o médico é
livre de prescrever o melhor medicamento para seu paciente e a base
farmacológica. “Repito que prescrevemos princípio ativo dos medicamentos
e não marcas de laboratórios. Prezamos por uma saúde de qualidade e não
o enriquecimento de laboratórios”, afirma. “Compartilho de que o povo
brasileiro merece um bom atendimento e ter seu dolo amenizado e curado
da melhor forma”, acrescenta.
“Os
médicos do Brasil não desistirão de seu País. E lutarão contra esta
política bolivariana de implantação de um falso socialismo em que os
trabalhadores são penalizados e os infratores são tidos como heróis”,
defende. A médica tacha de eleitoreiro o programa Mais Médicos, o qual
afirma que mantém os médicos cubanos em regime de escravidão e que 80%
dos seus ganhos vai para o governo dos irmãos Castros. “É um risco para a
nossa população, pois estes profissionais não revalidaram seus diplomas
e realmente não sabemos o tipo de profissional e sua capacidade
técnica”, defende.
De acordo com
Patrícia Sicchar, a classe médica brasileira é contra a forma de atuação
do governo Dilma. “Que prioriza apenas a manutenção da pobreza. Não
prioriza o indivíduo. A saúde do Brasil pede socorro! O investimento em
saúde é pequeno”, afirma. “Hoje, os municípios e Estados trabalham no
seu limite, devido à responsabilidade fiscal e o Governo Federal se faz
de desentendido”, acrescenta.
Patrícia
Sicchar afirma que o Dignidade Médica foi criado em 2010 com a
finalidade de encurtar as distâncias e melhorar a comunicação entre os
médicos e estudantes de medicina do País. “Hoje, sabemos o que acontece
com a saúde, com as universidades, em tempo real, em qualquer parte do
Brasil. O grupo ajudou a unir a classe médica que há décadas estava
dispersa”, afirma.
O portal IG
revelou, no mês passado, que o grupo foi usado para publicar mensagens
que pregavam, entre outras coisas, castração química e extermínio de
pobres e nordestinos porque, em tese, teriam dado a vitória a Dilma
Rousseff. Depois da reportagem, as publicações foram apagadas. Segundo
Sicchar, as publicações podem ter sido feitas por “milícias cibernéticas
do PT” infiltradas no grupo.
CRM diz que irá apurar conduta
O
Conselho Regional de Medicina do Amazonas (CREMAM) vai apurar a conduta
dos médicos na rede. “O colega tem o livre arbítrio de escolher o que
vai prescrever, o que não quer dizer que ele pode deixar de prescrever
um medicamento. Isso porque têm medicamentos que só alguns laboratórios
podem produzir e não se pode prejudicar um paciente por causa disso, por
um ato político”, afirmou o presidente do conselho, o cirurgião
vascular José Bernardes Sobrinho.
Para
o presidente do órgão, os médicos devem saber separar a atuação
política da profissional. “Cada colega tem direito de votar em quem
quiser e fazer propaganda, mas jamais usando ato médico para isso”,
disse, Sobrinho.
“O colega não pode
ficar pregando que não vai prescrever para um ou outro laboratório
porque financiou A, B ou C. Não se pode prejudicar um paciente por um
problema ideológico, político. O paciente é vítima da situação”, afirmou
José Bernardes, ao revelar que os médicos podem ser advertidos. Ele
também disse que os médicos não têm autorização para publicar
manifestações na página do conselho.
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