(portal Acrítica)
Dados
divulgados nesta quinta-feira (24) pelas Nações Unidas apontam uma
ligeira melhora do Brasil nos indicadores sociais, mas ainda assim
abaixo de países como Cuba, Venezuela e Irã
O representante do PNUD e coordenador do sistema ONU no Brasil,
Jorge Chediek, e a coordenadora do Atlas do desenvolvimento Humano no
Brasil, Andrea Bolzon
O
Brasil subiu no ranking mundial de desenvolvimento humano em 2013.
Segundo dados divulgados hoje (24) pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (Pnud), o país ficou em 79º lugar no Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) no ano passado, uma posição acima da
registrada em 2012. Apesar da melhora, o Brasil continua abaixo de
outros países latino-americanos como Chile, Argentina, Cuba e Uruguai.
Com
IDH 0,744, o país registrou a mesma nota da Geórgia (república da
região do Cáucaso) e de Granada (país do Caribe). Pela metodologia das
Nações Unidas, o Brasil é considerado um país de alto desenvolvimento
humano por ter registrado nota acima de 0,7. O IDH varia de 0 a 1, grau
máximo de desenvolvimento. Em 2013, o indicador abrangeu 187 países.
A
Noruega foi o país com maior IDH no ano passado, com índice de 0,944,
seguida de Austrália (0,933), Suíça (0,917) e Holanda (0,915). Em
relação aos países latino-americanos, os mais bem classificados foram
Chile (41º lugar, com nota 0,822), Cuba (44º, com nota 0,815) e
Argentina (49º, com nota 0,808), considerados com grau muito alto de
desenvolvimento humano por terem obtido nota acima de 0,8.
Na
América Latina e no Caribe, Uruguai (50º no ranking, com nota 0,790),
Barbados (59º, nota 0,776), Antígua e Barbuda (61º, nota 0,774),
Trinidad e Tobago (64º, nota 0,766), Panamá (65º, nota 0,765), Venezuela
(67º, nota 0,764), Costa Rica (68º, nota 0,763), México (71º, nota
0,756) e São Cristóvão e Nevis (73º, nota 0,750) também registraram IDH
mais alto que o Brasil.
Entre
o Brics, grupo que reúne as cinco principais economias emergentes do
mundo, o Brasil registrou o segundo melhor IDH, atrás da Rússia (57º
lugar, nota 0,778). Com nota 0,719, a China ficou na 91ª posição. A
África do Sul ficou em 118º no ranking (nota 0,658); e a Índia, em 135º
(nota 0,586).
Apesar
da melhoria de 2012 para 2013, o Brasil acumula queda de quatro
posições em relação a 2008, quando estava em 75º na lista geral. De
acordo com o Pnud, o IDH brasileiro melhorou em todos esses anos. No
entanto, quatro países – Irã, Azerbaijão, Sri Lanka e Turquia – tiveram
crescimento maior que o Brasil no período, resultando na perda de
posições.
Criado
em 1980, o IDH mede o desenvolvimento humano por meio de três
componentes: expectativa de vida, educação e renda. Em 2013, o Brasil
registrou 73,9 anos de expectativa de vida, 7,2 anos de média de estudo,
15,2 anos de expectativa de estudo para as crianças que atualmente
entram na escola e renda nacional bruta per capita de US$ 14.275
ajustada pelo poder de compra.
O
IDH do Brasil em 2013 subiu 36,4% em relação a 1980. Naquele ano, a
expectativa de vida correspondia a 62,7 anos, a média de estudo era de
2,6 anos, a expectativa de estudo somava 9,9 anos, e a renda per capita
totalizava US$ 9.154. “O Brasil é um dos países que mais evoluíram no
desenvolvimento humano nos últimos 30 anos”, disse o representante
residente do Pnud no Brasil, Jorge Chediek. Ele destacou que as mudanças
são estruturais e têm ocorrido em todos os governos.
Por
causa de mudanças na metodologia, a série histórica do IDH foi revista.
Pelo critério anterior, o Brasil tinha ficado em 85º em 2012. Com a
mudança de cálculo, o país subiu para a 80ª colocação no ano retrasado.
Se a desigualdade social fosse incluída no cálculo, o país perderia 16 posições
Na
79ª posição no ranking internacional de desenvolvimento humano em 2013,
o Brasil registraria posição pior se a desigualdade social fosse
incluída no cálculo. Segundo o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (Pnud), o país perde 16 colocações com o ajuste do
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) pela desigualdade.
De
acordo com o Pnud, o IDH do país cairia 27%, de 0,744 para 0,542 por
esse critério, fazendo o Brasil passar para a 95ª colocação no ranking
global, que tem 187 países. Divulgado hoje (24), o IDH ajustado pela
desigualdade social segue os mesmos parâmetros do IDH tradicional, mas
desconta a desigualdade na renda, na educação e na expectativa de vida
da população.
No
caso do Brasil, a maior desigualdade ocorre na renda, com 39,7% de
diferença média entre ricos e pobres. Os índices correspondem a 24,7%
para a educação e a 14,5% na expectativa de vida. Os valores são maiores
que a média da América Latina e do Caribe, com desigualdade de 36,3% na
renda, 22,2% na educação e 13,2% na expectativa de vida.
“O
Brasil tem uma trajetória de progresso acumulada durante anos, mas
ainda tem muito a fazer. Mesmo com a redução da pobreza nos últimos
anos, o Brasil continua desigual”, diz o representante residente do Pnud
no Brasil, Jorge Chediek. De acordo com o órgão, a cada ano, o país tem
reduzido o impacto do cálculo da desigualdade no IDH. Em 2006, a nota
brasileira tinha sido diminuída em 29,6% após o ajuste.
Em
outros países do Brics, grupo das principais economias emergentes do
mundo (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), as formas de
desigualdade são diferentes do Brasil. Na Índia, a principal fonte de
desigualdade social está na educação, com índice de 42,1%, enquanto a
diferença média de renda corresponde a 16,1%. Na Rússia, o índice de
desigualdade de renda está em 22,9%, mas praticamente não há disparidade
na educação, cujo indicador de desigualdade é de apenas 2,1%. Por falta
de dados com padronização internacional, China e África do Sul não
tiveram o IDH ajustado pela desigualdade calculado.
De
acordo com a coordenadora do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil,
Andréa Bolzon, o IDH ajustado complementa a análise do IDH. Ela, no
entanto, esclarece que a inclusão da desigualdade no cálculo permite
melhor representação da realidade. “O IDH tradicional só reflete a média
[de um país]. O IDH ajustado pensa em oferecer uma análise a mais, um
índice de apoio, mas o índice tradicional não deve ser deixado de lado”,
explica.
A
Argentina seria o país da América Latina cujo IDH seria menos impactado
pelo ajuste do índice pela desigualdade, com queda de 15,8% na nota (de
0,808 para 0,680). O país vizinho tem índices de desigualdade de 9,3%
para a expectativa de vida, 8,6% para a educação e 28,1% para a renda.
No Chile, país latino-americano com maior IDH pelo critério tradicional
(0,822), a nota cairia 19,6% com o ajuste, com desigualdade de 5,9% na
expectativa de vida, 13,7% na educação e 36% na renda.
A
menor perda de nota seria registrada na Finlândia, cujo IDH cairia
apenas 5,5% com o ajuste de desigualdade (de 0,879 para 0,830). O país
mais prejudicado seria Serra Leoa, na costa oeste da África, com queda
de 44,3% (de 0,374 para 0,208). De acordo com o Pnud, 42 países não
tiveram o IDH recalculado pela desigualdade social por falta de dados
internacionais.
Programas sociais ajudaram a frear aumento da pobreza no Brasil, diz Pnud
A
ampliação dos gastos públicos e os programas sociais ajudaram o Brasil a
impedir o retorno das camadas mais vulneráveis da população à pobreza
após a crise econômica global de 2008. A avaliação está no Relatório de
Desenvolvimento Humano de 2014, divulgado hoje (24) pelo Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).
De
acordo com o documento, a política anticíclica (aumento de gastos
públicos em momentos de baixo crescimento econômico), os programas de
transferência de renda e a política de valorização do salário mínimo
fizeram o consumo dos 40% mais pobres da população continuar a crescer
em ritmo maior que a média da população.
O
representante residente do Pnud no Brasil, Jorge Chediek, considera
acertada a política adotada pelo Brasil de aumentar a resistência da
população que ascendeu socialmente nos últimos anos a choques
econômicos. “A crise financeira internacional criou sérios problemas
para o Brasil, ameaçando a geração de empregos e o progresso social”,
explicou.
Para
Chediek, a estratégia de aumentar gastos públicos para conter crises
econômicas deveria ter sido seguida pelos países avançados “Recomendamos
a adoção de políticas anticíclicas em momentos de instabilidade
econômica. A receita não foi seguida nos países desenvolvidos, que
cortaram gastos e agravaram o desemprego e a vulnerabilidade da
população”, comparou.
Segundo
Andréa Bolzon, coordenadora do Atlas de Desenvolvimento Humano no
Brasil, a ajuda às populações mais pobres não se resumiu aos programas
sociais. A ampliação do crédito e a valorização do salário mínimo
ajudaram a manter a formalização do mercado de trabalho por meio do
estímulo ao consumo interno.
“No
mundo inteiro, existe a tendência de queda do emprego e aumento da
informalidade. O Brasil é um dos poucos países a registrar aumento do
emprego e diminuição do trabalho informal entre 2007 e 2010”, apontou
Andréa.
Para
a coordenadora, as medidas adotadas pelo Brasil ajudaram o país a
manter o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em alta contínua, mesmo
após o agravamento da crise econômica global. “Ano a ano, a nota do
Brasil aumenta. Muito disso tem a ver com as políticas de redução das
vulnerabilidades”, declarou. Em 2013, o Brasil ficou na 79º posição no
ranking internacional de desenvolvimento humano, com índice de 0,744.
Além
da adoção de políticas anticíclicas, o relatório recomenda a
implementação de um piso de proteção social em todos os países. Segundo o
documento, o nível mínimo de proteção social é possível mesmo nas
nações mais pobres. Países desenvolvidos, como a Dinamarca e a Suécia,
começaram a adotar essas políticas quando tinham uma renda per capita
semelhante à observada atualmente na Índia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário