(portal Acrítica)
Ao completar 17 meses à frente da prefeitura, o prefeito Arthur Neto faz um balanço dos resultados de sua administração e se queixa que a presidente Dilma Rousseff não cumpriu promessas feitas a Manaus
Ressaltando
que recebeu uma cidade com muitas dificuldades, após um ano e meio de
mandato o prefeito de Manaus, Artur Neto (PSDB), afirma estar feliz por
ter conseguido equacionar problemas como a falta de recursos do
município. Apesar disso, o prefeito disse, em entrevista ao jornal A
CRÍTICA, que para manter o equilíbrio financeiro, e ter recursos para
investimentos, fará novos cortes nas contas da prefeitura, o que passa,
inclusive, pela redução do número de secretarias. Hoje, a administração
tucana tem 17 secretarias, quatro autarquias e duas fundações.
O
prefeito tucano responsabilizou a presidente da República, Dilma
Rousseff (PT), por parte das dificuldades da prefeitura de Manaus em
levantar recursos para investimentos em obras, como na área de
infraestrutura. Segundo Artur, o tratamento dado pela presidente a
Manaus o deixa mais convicto das escolhas que fez nessas eleições. A
seguir, trechos da entrevista.
Como o senhor avalia os desafios que sua administração enfrentou ao assumir a Prefeitura de Manaus?
Parto
da premissa que a gestão começa no financeiro. Ter controle sobre as
finanças do município, reduzir drasticamente gastos de custeio para
fazer com que sobre dinheiro para os investimentos a serem aplicados nas
prioridades estabelecidas pela administração. O bom gestor é avesso a
inflar a coluna do custeio e propenso a incrementar a coluna do
investimento. A segunda coisa foi pautar as principais dificuldades do
município, e a gente não herdou poucas: uma infraestrutura arruinada, um
sistema de transporte extremamente difícil, só 23% de cobertura de
assistência básica à saúde - hoje temos 52% -, escolas alugadas e
encontramos 500 mil pessoas em Manaus sem água. Mas nós conseguimos
apresentar uma Manaus bonita para a Copa.
Apresentar Manaus bem ao mundo foi o maior legado que o senhor acha que o evento deixou para a cidade?
Muita
gente achou que o legado seria um prédio, seria isso ou aquilo. O
legado para mim é o conjunto da obra. Acima de tudo, nós termos
apresentado Manaus para o mundo, para bilhões de pessoas pela televisão,
e para 260 mil pessoas que visitaram a cidade, segundo a Infraero.
Fiquei feliz porque aqui não houve incidente, porque a Fifa reconheceu
que a organização foi impecável e que deveria ter alocado mais jogos
para cá. E o nosso Fan Fest, onde passaram 500 mil pessoas, só ficou
atrás de São Paulo e Rio em público. Manaus tem vocação para cidade
mundial. A Copa do Mundo mostrou isso. Até porque nós temos um povo que é
muito cordial e hospitaleiro.
Quais desafios Manaus deve ainda superar para que essa vocação se torne realidade?
Infraestruturar
a cidade. Porque nós divulgarmos bem a cidade, os turistas já fazem
isso. Quem vem aqui sai falando muito bem. Nós temos tudo. A marca
Amazon é a 6ª mais falada do mundo.
O
senhor acredita que ainda sairão do papel essas obras que poderiam ter
sido construídas durante a preparação para a Copa do Mundo?
Eu
não acredito no monotrilho. O monotrilho aumenta a passagem, não se
integra à cidade e é o paraíso do pichador. O BRT é uma boa solução, mas
exige muita desapropriação. A desapropriação é quase igual ao
investimento. Eu tive 16 meses até a Copa, não tinha como mexer em uma
tecnologia melhor. Mas funcionou, 60% das pessoas que foram para a Arena
foram de ônibus. A solução definitiva de transporte passa por termos
uma tecnologia superior. Essa que está aí se exauriu. Pode ser o BRT, o
VLT ou o VLP.
Como o senhor planeja essa segunda metade do mandato?
Continuo
pensando sempre em termos de segurança financeira. Dou exemplo: a
presidente Dilma prometeu em praça pública recursos para o sistema
viário de Manaus e, por questões políticas, não tenho dúvida, não fez.
Eu não a apoio, não apoio os candidatos dela, e ela sabe que seria
assim. Eu não sou cooptável. Agora ela se esquece de detalhes
fundamentais. Ela confunde recurso público com o dela. Por não ter
cumprido a promessa, ela abriu um rombo nas minhas contas. Tive que
cortar despesas, mais gastos, para equilibrar de novo. Fiquei
decepcionado. Acho que prevaleceu a mediocridade da lógica eleitoreira.
É
tentando evitar esse tipo de relação com a prefeitura que o senhor
apóia a reeleição do governador José Melo (Pros) e não outro candidato?
O
senador Braga (candidato ao governo) é líder do governo dela
(presidente Dilma Rousseff). É uma pessoa que procurei, bati na porta do
gabinete dele para ajudar Manaus e não obtive resposta. E essa história
de ajudar em troca de apoio não cola para mim. Eu apoio
independentemente de pesquisa, apoio por convicção. É uma política
atrasada essa história de dizer que não me apoia, então não tem
dinheiro.
No final de junho, o
senhor disse que muita gente o aconselhou a se candidatar ao governo,
dada a boa avaliação que sua administração tem. Por que não se
candidatou?
Porque eu quero
mostrar que cortar mandato pelo meio não é uma demonstração de bom
caráter. Quero mostrar que política e falta de vergonha na cara não são
sinônimos. Política e falta de palavra não têm que ser sinônimos. Eu
sabia das possibilidades, qualquer pessoa percebe. Mas não me importa. O
que importa é que eu tinha um compromisso de governar Manaus por quatro
anos e vou cumprir.
Isso só
vale para o Executivo? Porque no Legislativo municipal 25 dos 41
vereadores estão disputando as eleições antes de completar dois anos de
mandato.
Se aplica mais do
Legislativo para o Legislativo (se candidatar sem concluir mandato). A
negação é você assumir um cargo no Executivo, que exige continuidade.
Não acho nada mais natural que você ser senador e no meio do mandato ser
candidato. Acho natural um vereador querer ser deputado porque ele
nunca vai ser deputado se não se candidatar. Porque nunca as eleições
são coincidentes. O que não é plausível é eu assumir um mandato
executivo, ter um governo de um ano e três meses aprovado e largar para
disputar o Governo do Estado. Eu tenho uma biografia respeitada, e se eu
largo o mandato iria quebrá-la. Não tinha cabimento ser candidato. Não
sou viciado em eleição. Não tenho síndrome de abstinência quando tem
eleição.
O senhor fala em não
ser predestinado a nada, mas, 20 anos depois de ser prefeito, o senhor
volta a ocupar o cargo tendo que enfrentar questões polêmicas que o
desgastaram no primeiro mandato, como a retirada de vendedores
ambulantes do Centro. O que aconteceu de diferente dessa vez, que a
questão está sendo resolvida sem desgastes?
A
conjuntura econômica da época era lastimável. Era tanta sonegação de
imposto... Tava tudo complicado, até pagamento de pessoal. Saí da
hiperinflação do Sarney e peguei a inflação do Collor, 26% ao mês. Uma
coisa terrível. Tomei uma atitude drástica, polêmica. E durante todo o
tempo que passou de lá para cá, quem quisesse ter voto de camelô bastava
falar mal de mim. Hoje, por respeito à integridade física das pessoas,
recomendo que não falem mal de mim perto deles (camelôs), tal a mudança
que aconteceu. Estamos inaugurando dia 31 de julho o primeiro grande
shopping popular. E em setembro o segundo, e antes do fim do ano o
terceiro. É um projeto que está indo muito bem.
O
senhor apóia o senador Aécio Neves (PSDB), que faz oposição à
presidente Dilma Rousseff. O que um governo do PSDB pode fazer melhor
que o do PT pelo Amazonas e por Manaus?
Primeiro,
que no governo do presidente Fernando Henrique houve estabilidade
econômica, que está em risco sob o governo dela (Dilma). A economia
virou do avesso, inflação alta, maquiada, está em dois dígitos já. O
(candidato) eleito, se não for ela, ela será uma mulher de sorte, pois
ela não terá um minuto de estado de graça, de paciência do povo. É hora
de alternância. O Aécio está muito bem, crescendo. Ele tem a favor o
fato de ter sido presidente da Câmara, ela não foi nada. Ele foi
governador de Minas (Gerais) duas vezes, fez um governo vitorioso. Ele
tem uma cabeça democrática, como foi o presidente Fernando Henrique. Ele
vai ajudar Manaus? Óbvio. É meu amigo. Mas não vai deixar de ajudar um
governante porque não tenha votado nele. O Aécio significa oxigenar o
País.
Como sua administração está organizada para esse segundo semestre de 2014?
Está
bem. Está organizada. Esperamos passar esse período conturbado de
eleição para refazer um processo de mais ajustes de contas e mais
redução de despesas. Percebemos que dá para fazer uma segunda reforma
administrativa, cortando secretarias. Estou muito tranquilo quanto a
isso. Quero fazer um governo que revele maturidade, que revele
capacidade de resolver os problemas possíveis e de equacionar os
impossíveis para que outros que venham resolvam.
Frases
“Manaus
tem vocação para cidade mundial. A Copa do Mundo mostrou isso. Até
porque nós temos um povo que é muito cordial e hospitaleiro”
“A solução definitiva de transporte público em Manaus passa por termos uma tecnologia superior. Essa que está aí se exauriu”
“Quero
mostrar que cortar mandato pelo meio não é uma demonstração de bom
caráter. Que política e falta de vergonha na cara não são sinônimos”.
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