(portal Acrítica)
Representando mais da metade do eleitorado do Amazonas, as mulheres reclamam mais políticas públicas voltadas para o gênero
A estudante de direito Natasha Donadon, aos 21 anos, vai votar
pela segunda vez em eleições gerais; a jovem diz que procura analisar os
candidatos antes mesmo da propaganda eleitoral começar
Um
exército de 1,13 milhão de mulheres está apto a votar este ano no
Amazonas. O voto feminino corresponde a 50,8% do eleitorado do Estado. A
maior parte mora em Manaus. Enquete realizada por A CRÍTICA mostra
que uma das principais cobranças delas para os candidatos ao governo é a
melhoria no atendimento especializado de saúde. A agenda do Movimento
de Mulheres para os políticos que pretendem governar o Estado, contudo, é
mais ampla. Vai da ausência de delegacias da Mulher no interior do
Amazonas à construção de creches.
Eleitoras
ouvidas pela reportagem, nas ruas de Manaus, esperam que as promessas
de campanha não sejam abadonadas após a eleição. A pedagoga Adelina
Nascimento, 44, afirma que é criteriosa na análise de quem receberá o
seu voto. “O candidato para fazer eu votar nele tem que me convencer que
vai fazer o que ele está prometendo. Levo em consideração o histórico
dele. Da maioria dos que estão ai, sei o que fizeram e o que deixaram de
fazer”, afirmou Adelina.
Para
a estudante de direito Natasha Donadon, 21, o eleitor não tem que
escolher o seu candidato no período da propaganda. “Tem que escolher no
momento em que eles estão agindo. No momento, em que ninguém está em
evidência para ver quem de fato tem espírito público”, pontua. A jovem
afirma que as mulheres têm que ficar atentas às propostas dos candidatos
e candidatas. “Eu vejo muitas propostas que não são possíveis de se
realizar. Eles têm que ser mais realistas”, disse a estudante.
A
universitária ressalta que um dos principais problemas enfrentados
pelas mulheres, no Estado, é a falta de atendimento médico
especializado. “A saúde especializada da mulher deixa muito a desejar.
Mesmo existindo hospitais para esse fim, encontramos dificuldades de
encontrar os especialistas, os médicos, agendar os exames”.
A
falta de estrutura na atenção especializada à saúde feminina também é
lembrada pela comerciante Adjanir de Jesus, 51. “Os governos precisam
melhorar isso para garantir qualidade de vida. Ainda mais agora que a
mulher é parte significativa para o mercado de trabalho e fica com pouco
tempo para cuidar de si”, observa.
A
técnica em patologia Silvania Teixeira, 50, aponta a precariedade do
serviço público como o principal entrave a ser superado. “Para mim, o
maior problema hoje é saúde e educação. Eu, que trabalho no serviço
público, vejo que há descaso com as pessoas. As pessoas procuram as
instituições, não têm vagas e elas ficam pelos corredores”, afirmou a
servidora.
Silvania
afirma que está desacreditada com a política e que para um candidato
convencê-la a votar nele tem que se mostrar disposto a “dar atenção onde
hoje não há”. Moradora do bairro Petrópolis, Zona Centro-Sul, ela cita a
falta de saneamento básico como um descaso por inércia das ações
governamentais.
Blog: Luzarina Verela, ativista do movimento feminista - MUSA
“O
mais urgente é a saúde. Principalmente, para a mulher da
perifeira.Hoje, ela faz um exame preventivo e demora 30 dias para
receber. Para se marcar uma mamografia, é uma, duas, três vezes indo no
posto para conseguir pegar uma ficha, falar com o médico. Para marcar
essa mamografia, é uma verdadeira peregrinação. Infelizmente, as
eleitoras têm o custume de não votar em quem corre o risco de perder.
Ainda não tem aquela consciência: ‘vou votar na mulher, no candidato que
tem esse compromisso’. Deveria haver nas escolas o ensino político
para preparar não só as mulheres, mas todos”.
Em números
1.095.197
homens vão às urnas em outubro no Estado, o que representa 49,1% do
eleitorado amazonense. A média no País é ainda menor. São 47,7% de
eleitores contra 52,1% de eleitoras.
1932
é o ano em que as mulheres conquistaram o direito de votar e de serem
votadas no Brasil. Mas, a proporção de mais mulheres no País não se
repete no Congresso Nacional.
Personagem: Professora do Ensino Fundamental, Josany Davi
“Falta voto consciente”
A
professora Josany Davi, 28, acredita que o principal problema a ser
combatido é a falta de educação política. “Falta voto consciente. A
grande parcela das mulheres, e dos homens, não vai em busca de
conhecimento para um voto consciente que resulte em melhorias de fato na
saúde, educação, segurança”, disse. “A visão machista é outro ponto que
ainda é forte, mesmo entre as mulheres. Apesar das conquistas, como
direito ao voto e à liberdade, muitas mulheres ainda fazem aquilo que a
sociedade machista impõe”, acrescentou. Na avaliação dela, muitas
mulheres em cargos políticos hoje “estão traçando o mesmo caminho que
os homens”. “Eu não tenho visto muitas diferenças“, afirmou.
Três perguntas para Florismar Silva, coordenador movimento de mulheres solidárias do AM
1. Qual o projeto mais urgente que deve ser implantado para as mulheres no Amazonas?
Um
casa feminista para atender mulheres que sofrem violência. Para
abrigar, dar estrutura, de fato, com psicólogos, assistentes sociais.
Com atividades que elevem a autoestima da mulher.
2. O que falta avançar nas causas defendidas pelas mulheres?
Já
avançamos muito, não porque os governos são bonzinhos, mas pela luta
dos movimentos, pela cobrança. No entanto, as mulheres ainda são muito
machistas. É cultural, um contexto patriarcal.
3. Essa questão cultural é um dos fatores que explica por que há poucas mulheres na política?
Exatamente.
E essa é uma luta que travamos há 500 anos. Todo o sistema, os partidos
dizem que valorizam a mulher, mas na hora da prática existem as
prioridades e sempre são os homens que estão na frente.
Manaus concentra voto feminino
Levantamento
feito a partir de estatística do eleitorado disponível no portal do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revela que o maior percentual de
eleitoras do Amazonas está concentrado em Manaus – 57,5%. São 650,6 mil
mulheres votantes, o que representa 29,2% do total de eleitores do
Estado (2,2 milhões).
Eleitoras
que têm entre 18 e 59 anos são maioria (86,1%). As mulheres entre 25 e
34 anos de idade representam a faixa etária com o maior percentual
registrado no eleitorado feminino – 27%. O mesmo grupo representa 13,7%
do eleitorado do Amazonas. Em seguida, as mulheres entre 35 e 44 anos
que são 235,3 mil, ou 20,8% do eleitorado feminino e 10,5 % do total. O
terceiro grupo com maior representação é o das eleitoras que têm entre
45 e 59 anos de idade, que são 19,1% entre as mulheres e 9,7% do total.
A
única faixa etária em que as mulheres não são maioria é entre os
eleitores com idade superior a 79 anos. Elas são 22 mil e eles são 23,3
mil. Quanto ao grau de instrução, a estatística informa que a maioria
das eleitoras do Amazonas possuem o ensino fundamental incompleto – são
335 mil, seguidas das com o ensino médio incompleto, que são 242 mi.
A
última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/2012) do IBGE
revela que apenas 56,4% das mulheres em idade ativa no Amazonas estão
empregadas, enquanto o percentual de homens chega a 77,3%. Já o
rendimento mensal médio das mulheres no Estado é mais baixo que o dos
homens. Elas ganham em média R$ 1.112,00 e eles R$ 1.283,00.
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