(portal Acrítica)
Candidatos
com propostas nem tão diferentes assim. A carta de intenções dos
candidatos ao governo do Amazonas disponibilizada no site do Tribunal
Superior Eleitoral mostra mais do mesmo visto a cada quatro anos.
Afinal, as propostas firmadas são ou não o melhor meio de se escolher um
candidato?
Defesa
da Zona Franca, preservação da floresta, segurança pública e
generalidades. Além do costumeiro discurso proferido em todas as
eleições para o governo, o pleito deste ano traz os candidatos muito
mais preocupados em se mostrarem mais sensíveis aos ouvidos da
população, e preocupados com gastos ao administrar a máquina pública.
Isso, ao menos, nas promessas.
O plano de propostas dos seis candidatos ao governo do Amazonas nas eleições de outubro - disponíveis no site
do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com exceção de Abel Alves, que
não disponibilizou o seu - possuem mais coisas em comum entre si que
opções interessantes para os eleitores.
Talvez
como um reflexo das manifestações do último ano, todos os candidatos
falam sobre criar ouvidorias para saber e entender melhor os anseios da
população para realizar investimentos mais precisos em áreas essenciais,
assim como estabelecer metas na administração pública para evitar o
desperdício do erário.
Para
o professor de Ciência Política e coordenador do Núcleo de Cultura
Política do Amazonas (Ncpam), da Universidade Federal do Amazonas
(Ufam), Ademir Ramos, o grosso do que é prometido faz parte do ‘arroz e
feijão’.
“Conservação
da floresta, transparência, gestão, apoio às populações tradicionais do
interior e a luta pela Zona Franca de Manaus são coisas que todos os
candidatos se propõem a fazer. É o arroz e feijão da política local”,
comentou.
Propostas possíveis?
Os
dois candidatos líderes nas pesquisas – Eduardo Braga e José Melo -,
são os que apresentam maior número de propostas, no mínimo, ousadas no
campo da aplicação prática em quatro anos de governo.
O senador da república, Eduardo Braga
– candidato do PMDB, pela coligação Renovação e Experiência -, promete
erradicar o número de analfabetos e diminuir a quantidade de analfabetos
funcionais do Amazonas. De acordo com dados do Ministério da Educação
(MEC) do fim de 2013, o Amazonas possui 384 mil pessoas analfabetas. Nos
últimos oito anos – tempo que contempla os governos do próprio Braga,
Omar Aziz e de José Melo -, o Estado diminuiu cerca de apenas 1,4% o
número de analfabetos segundo dados do próprio MEC.

José Melo,
atual governador - do Pros, e candidato à reeleição pela coligação
Fazendo Mais por Nossa Gente -, promete dobrar o número de 44 escolas
urbanas em tempo integral que existem atualmente ‘de modo a contemplar
todos os municípios do estado’. Além de também ‘Promover as condições
para a erradicação do analfabetismo absoluto da população de 15 anos ou
mais e reduzir a taxa de analfabetismo funcional’.

Para
o professor Ademir Ramos, os planos de governo devem ser exequíveis e
estarem coadunados com os anseios da população mais carente. “Precisamos
de um governo que torne a população menos pobre. Não me refiro à
pobreza em relação ao poder aquisitivo, mas pelo serviço que os governos
prestam ao cidadão. Se você tem uma política pública precária, isso
traduz em pobreza e miséria. Os maus serviços na educação, segurança,
moradia saúde e cultura são um atestado de pobreza e miséria daquela
população. Estas eleições são um bom momento de avaliar novas políticas
públicas”, finalizou.
Choque de gestão
Melo
cita em seu plano administrativo: ‘Implantar práticas de gestão por
resultados na administração pública’. Algo bastante similar promete seu
principal adversário, Braga, fala sobre implantar ‘gestão baseada no
estabelecimento de metas, acompanhamento de sua execução e avaliação dos
resultados’.
O corte de custos desnecessários também está na agenda do candidato Chico Preto (PMN), da coligação O Amazonas Merece Muito Mais e de Marcelo Ramos (PSB-Rede), da coligação “Juntos Somos Mais Fortes”.
Chico
Preto comenta ‘combateremos incansavelmente a corrupção em todos os
níveis, através da criação de mecanismos de controle e de
transparência’.

Já
o candidato Marcelo Ramos afirma que fará publicações de ‘resultados em
cada ação de governo e que realize monitoramentos e prestação de contas
públicas periodicamente’.
Nem a esquerda escapa
Nem
mesmo os partidos mais à esquerda escapam da mesmice ideológica de
todas as eleições desde a reabertura política no Brasil. Lá atrás, os
comunistas e socialistas já pregavam a participação efetiva da sociedade
civil em todas as ações do governo.
Com exceção de Abel Alves do Partido do Socialismo e Liberdade (Psol) - que não disponibilizou seu plano de governo -, Herbert Amazonas (PSTU) e Luiz Navarro
(PCB) abrem o documento fazendo o mesmo discurso ideológico contra o
grande capital e a disposição em romper com os poderes estabelecidos e
olhar mais para a classe trabalhadora.
Navarro
tem alguns pontos curiosos em suas propostas, como: estatização de todo
o sistema financeiro, meios de comunicação, transporte, mineração,
recursos naturais em geral, logística, e meios de produção.

Herbert
Amazonas segue a mesma linha do camarada vermelho e propõe, entre
outras coisas: moratória da dívida externa, o fim da Lei de
Responsabilidade Fiscal, o fim da isenção fiscal para as empresas
instaladas no polo industrial de Manaus e a construção de lavanderias e
restaurantes públicos.

“Estas
propostas são burocráticas e já não possuem o peso da transformação e
não tem densidade política alguma fora daquele círculo ideológico”,
refletiu o professor.
A voz do povo
Não
governar somente na base de decisões pessoais ou sugestões de
conselheiros. A tônica parece ser repetida como um mantra entre os
candidatos de que de alguma forma: o cidadão deve ser ouvido.
Melo
firma o compromisso de “Capacitar representantes das comunidades para
consolidar os Conselhos Comunitários de Segurança”, como parte de seu
plano para a questão da segurança pública.
O
mesmo discurso é defendido por Braga, no quesito de participação civil
na atuação da polícia: “Participação e controle popular no Sistema de
Segurança Pública’.
Marcelo
Ramos chama a sociedade civil organizada para ‘um amplo debate sobre a
aplicação dos recursos públicos, elegendo prioridades estratégicas’,
para discutir os rumos de seu possível governo.

Já
Chico Preto prega o constante diálogo com a população ao dizer que
‘Precisamos identificar o que nos une e, nesta convergência, construir
um propósito, soltar as amarras e expressar nossa voz’.
Ademir
Ramos lembra que a postura de saber o que se passa com a população já
existe por meio dos Conselhos Populares, mas que por vezes, as
administrações públicas ‘burlam’ este mecanismo.
“Deve
haver respeito aos conselhos populares sobre questões como educação,
saúde, segurança e etc. O problema é que os conselhos também são dados
pelos secretários de Estado. Quer dizer, o conselho, que é um
instrumento da sociedade civil para controlar o Estado, acabada sendo
subvertido à vontade do próprio governo, uma vez que quem nomeia estes
conselheiros são os próprios secretários das pastas, e não a população”,
alertou.
Como escolher o candidato
Ademir
Ramos finaliza explicando que não é exatamente o que é prometido, e
sim, como o candidato pretende levar a cabo suas promessas. “O que deve
diferenciar na escolha do eleitor é analisar a forma com que o candidato
irá cumprir o que promete, pois existem metodologias diferentes de
trabalho em cada um dos candidatos É analisar a trajetória de cada um:
quem é, de onde saiu, o que já fez e, principalmente, como fez. Ele
respeita as decisões coletivas e da casa legislativa? Quer ganhar sempre
no grito? É amigo dos tubarões ou dos pobres?”, concluiu o professor
Ramos com um questionamento.
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