(portal Acrítica)
Os grupos buscam auxiliar, entre outros, pessoas com depressão, um dos transtornos que mais causam incapacidade, porém, nem sempre é diagnosticado e tratado de maneira adequada
Os
números não passam despercebidos: a depressão afeta cerca de 340
milhões de pessoas em todo o mundo (13 milhões somente no Brasil),
segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Ela é um dos transtornos
que mais causam incapacidade, porém, nem sempre é diagnosticado e
tratado de maneira adequada. Além do mais, a probabilidade de
reincidência após o tratamento pode chegar a 50%.
Com
o objetivo de buscar soluções para males comuns como esse é que foi
criada a irmandade Neuróticos Anônimos (NA), que empresta os preceitos
da também conhecida Alcoólicos Anônimos e está presente há quase meio
século no Brasil.
As
nove unidades de NA do Amazonas realizaram seu 14º encontro regional
numa atividade de conscientização sobre a doença. Uma das participantes
do NA, a funcionária pública Roberta* esclarece que a irmandade não é
vinculada a qualquer religião ou partido. Nos grupos, problemas como
ansiedade, depressão, medo, pânico, raiva e estresse são tratados à base
de muita troca de experiências e esperanças.
Segundo ela, o programa do NA envolve 12 passos e 12 tradições que
conduzem cada participante ao autoconhecimento. “Os passos nos ensinam a
viver com equilíbrio emocional, mas ninguém aconselha ninguém. É um
aprendizado de escuta do outro, e você acaba aprendendo a se escutar
também”, resume.
Ainda
que o NA não se filie a uma religião, seus preceitos têm raiz
espiritual. Mas Roberta garante: “Para se tornar membro pode até mesmo
ser ateu ou agnóstico, o único requisito é o desejo de superar seus
problemas”.
Mudança
Com
13 anos de Neuróticos Anônimos, Roberta* afirma que hoje segue um
caminho diametralmente oposto ao do passado. Quando aderiu ao programa
de recuperação, ela sofria de depressão, alcoolismo e uma série de
outros problemas somatizados. “Eu estava no fundo do poço. Antes eu só
sobrevivia, agora eu vivo plenamente, de uma maneira saudável e serena,
não preciso mais de remédio para dormir ou de álcool para atravessar os
dias”, declara a frequentadora do grupo Paz, que se reúne às terças à
noite. Ela ainda completa: “Para mim foi algo fascinante porque fui me
conhecendo e concluí que eu não sabia amar. Meu descontrole emocional e
egoísmo só me deixavam me preocupar comigo mesma”.
Um
dos 12 passos do NA é admitir, para nós mesmos e para outro ser humano,
a natureza e origem das nossas falhas. Foi por esse processo que o
funcionário público Farias*, de 58 anos, passou desde que começou a
frequentar as reuniões, aos 22, o que faz dele um dos membros mais
antigos do Amazonas. O problema dele era compartilhado por tantos
outros: depressão.
“Pelo
nome, eu achava que lá só dava doido, mas acabei descobrindo que eu
estava numa situação pior que todos. Hoje me sinto uma pessoa muito
feliz, o que não significa que eu não tenha que melhor ainda e passar
minha experiência para quem está chegando agora. Por isso participo até
hoje das reuniões”, comenta.
Psicóloga alerta
Em
um espaço de duas semanas foram anunciadas as mortes do ator americano
Robin Williams e do humorista brasileiro Fausto Fanti. Ambos sofriam da
mesma doença: depressão.
Atualmente,
essa é a segunda doença mais incapacitante do mundo e, segundo dados da
Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2020 será a primeira. Por ano,
850 mil pessoas com depressão em seu estágio mais grave cometem
suicídio.
Para
a psicóloga da Hapvida Saúde, Julita Sena, a doença carrega o estigma
de todas as doenças psiquiátricas. “A visão que temos sobre transtornos
mentais é arcaica e os profissionais da saúde têm um longo caminho para
desconstruir essa imagem que a sociedade tem sobre os pacientes”,
explica Julita.
Depressão não é apenas “estar para baixo”
Enquanto
quem está apenas triste consegue fechar um ciclo e retomar à vida
normal, o mesmo não acontece com quem apresenta um quadro depressivo. A
doença atrapalha a rotina, tornando atividades do dia a dia
insuportáveis e pode até mesmo trazer a sensação de que é desnecessário
continuar a viver.
Qualquer pessoa pode ter depressão
Embora
estudos apontem que há fatores genéticos que tornem algumas pessoas
mais propensas à depressão, qualquer um pode ser vítima da doença, até
mesmo crianças. Fatores externos, como uma vida muito estressante,
problemas profissionais ou familiares, abuso de drogas e álcool, podem
desencadear um quadro depressivo.
Não é falta de força de vontade
A
depressão é uma doença e deve ser tratada com suporte médico e
terapêutico adequado. Além disso, os sintomas não são apenas
psicológicos. A depressão pode ser detectada por diversos fatores
psicológicos e comportamentais: baixa autoestima, reclusão social,
irritabilidade. No entanto, o corpo também padece com os efeitos da
doença. A pessoa depressiva pode ter o sistema imunológico afetado,
dores pelo corpo, insônia ou sonolência em excesso, entre outros.
Preconceito só atrapalha
A
sociedade possui uma imagem negativa em relação aos transtornos
psicológicos em geral. Ao contrário de doenças como diabetes ou câncer,
por exemplo, elas causam pouca empatia e são alvo de preconceito. Isso
faz com que o paciente retarde a procura por ajuda.
*Nomes fictícios
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