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segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Em média, sete idosos são agredidos por dia em Manaus



(portal D24am)

Os agressores são principalmente os familiares das vítimas
domingo 3 de agosto de 2014 - 2:00 PM
Gisele Rodrigues / portal@d24am.com
Na Fundação Doutor Thomas (FDT), os idosos e familiares recebem apoio psicológico para voltarem a ter convívio. Foto: Eraldo Lopes
Manaus - Sete casos de violência contra idosos são registrados, em média, por dia na capital, segundo os dados da Delegacia Especializada em Crimes Contra Idoso (DECI).
Por ano, a instituição recebe 2,5 mil denúncias para serem apuradas, número superior ao registrado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH), que no ano passado recebeu 1.018 acusações de violação contra idoso no Disque 100.
De 2011 a 2013, o número de denúncias realizadas via Disque 100 subiu 495%. Nessa estatística, filhos, netos, companheiros e irmãos fazem parte do perfil do agressor.
Segundo o delegado Luiz Idelfonso Veiga, os parentes mais próximos das vítimas são os maiores agressores.
Conforme o delegado, a maioria das investigações de abuso se torna processos judiciais. “Detectado o crime, nós repassamos à Justiça. Conforme a situação, encaminho para o serviço social. As vezes não é um crime, mas a família não possui condições financeiras de oferecer um bom cuidado e, por isso, negligencia os cuidados de alguma forma”, disse.
No ano passado, 268 denúncias de violência física foram recebidas no Disque Direitos Humanos. A maioria dos casos é de violência psicológica, com 724 chamados, e negligência familiar, com 568.
A exploração financeira dos idosos também é um caso recorrente, segundo a gerente do setor de serviço social da Fundação Doutor Thomas (FDT), Michele Falcão.
“É comum encontrar famílias que se apossaram de benefícios, aposentadorias e bens e abandonaram os pais ou avós”, disse.
De acordo com levantamento da SDH, das 330 denúncias deste ano, 132 casos são de abuso financeiro.
Um dos pacientes da FDT, segundo Falcão, teve o abuso financeiro identificado em juízo, quando a ex-mulher, bem mais jovem que a vítima, pedia a separação.
Ela conta que o idoso chegou na instituição muito debilitado, vítima de maus-tratos.
“Ele foi há uma audiência de separação com a esposa, onde o juiz detectou que ali havia um caso de maus-tratos e acionou a equipe da FDT para averiguarmos. O idoso chegou numa cadeira de rodas muito doente, mas, como ele estava na frente da mulher, não quis falar nada”, disse.
Falcão contou que, após a averiguação, descobriram que a ex-mulher do idoso dava medicamentos fortes para dopá-lo e,  enquanto o ex-marido adoecia,  a mulher tomava conta dos bens. “Ele ficou conosco e saiu da instituição no ano passado, se recuperou, é uma pessoa ativa atualmente”, contou.
Segundo o delegado da DECI, entre as ocorrências mais comuns registradas na delegacia, estão os atos infracionais de injúria, perturbação, ameaça contra idosos e maus-tratos.
Conforme o conselheiro nacional de Direitos Humanos na Região Norte, Renauto Souto, não existe no Estado uma rede proteção ao idoso. Para ele, pelo menos duas outras instituições de acolhimento ao idoso precisariam ser construídas.
“O que existe hoje são centros de convivência do idoso, mas não evitam que essa parcela da população sofra violação dos seus direitos”, afirmou.
Para Souto, o desrespeito aos maiores de 60 anos faz parte de um tipo de violência cada vez mais recorrente em Manaus, principalmente no transporte urbano e nos comércios.
“É uma cultura atual, cada vez mais a sociedade desvaloriza as pessoas com mais idade. Nos ônibus, as pessoas não respeitam, não cedem lugar”, disse.
Fundação abriga 95 pessoas abandonadas pelos familiares
Aproximadamente 95 idosos foram abandonados pelas famílias na Fundação Doutor Thomas (FDT), segundo a gerente do setor de serviço social, Michele Falcão.  Atualmente, a instituição possui 120 leitos, desses 104 estão ocupados.
A assistente social explica que obrigar as famílias a assumirem a responsabilidade de cuidar do paciente não é o caminho.
“O idoso não quer estar com essa família, prefere estar aqui. Se voltar para a família vai ser uma coisa forçada que ele pode voltar a ser negligência”, disse.
Para ela, o ideal é que o vínculo familiar seja refeito, mas nem sempre o idoso percebe que vinha sofrendo maus-tratos e sofre com o abandono familiar.  “Fazemos o trabalho de resgate da família para que voltem a receber o contato e ajudar, inclusive, com gastos básicos nas medicações e fraldas”, disse.
 Na última reunião marcada com os familiares dos internos, apenas nove das 104 responsáveis pelos idosos estiveram na instituição.

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