(portal Acrítica)
Usuários
comentam sobre pontos positivos e negativos dessa nova ‘tecnologia’ do
contato. Confeitaria em Manaus recebe clientes avisando: "Aqui não temos
Wi-fi, nem televisão. Aqui temos olho no olho, conversas e risadas"
O
Faraday Café, localizado em Vancouver, no Canadá, é um estabelecimento
assim como qualquer outro do gênero: serve lanches e boas doses da
bebida marrom. Apenas um pequeno (e grande) detalhe o faz ser diferente
dos demais: ele não possui Wi-fi e veta todo e qualquer sinal 3G dos
celulares dos mais desavisados. E para garantir que ninguém possa
“puxar” qualquer sinal das redondezas, o local ainda vem protegido com
uma gaiola metálica, cuja armação não permite a passagem de sinais
eletromagnéticos.
Para quem acha um
exagero, a boa notícia: trata-se apenas de um experimento executado pelo
artista canadense Julian Thomas – finalizado no mês passado - que
propõe uma nova reflexão sobre o uso das tecnologias na sociedade
moderna. Os motivos que alimentaram essa ideia são praticamente óbvios:
fazer com que as pessoas possam interagir entre si, e se desliguem das
mensagens instantâneas, pelo menos no momento em que estiverem reunidas.
A proposta, bastante polêmica, causou um rebuliço em todas as faixas
etárias, entre as que apoiam totalmente a ideia, em partes ou discordam.
E você? Já se imaginou, nos dias de hoje, estar em um lugar sem redes
Wi-fi ou 3G?
Posicionamento
A
relações-públicas Larissa Sousa, 22, acredita que fornecer o sinal é
uma escolha de cada estabelecimento. “Mas, ao cortar o sinal 3G, acaba
por entrar em outras questões. Para mim, nenhum lugar tem autonomia para
decidir se um cliente deve ou não ter acesso à Internet, visto que são
os próprios usuários que pagam por esse serviço. É lamentável que muitas
pessoas prefiram favorecer seus celulares ao invés de interagir à mesa,
mas é uma escolha de cada um. Não convém a um estabelecimento decidir
isso por ninguém”, argumenta a jovem.
Não
existe coisa mais constrangedora do que ir a um bar e dividir a atenção
com os celulares. É o que defende o universitário José Silva, 22. “Eu
acho que estamos tão habituados com o uso dos celulares, que acabamos
adotando como uma necessidade, e assim como eles aproximam, podem nos
distanciar de quem está mais perto”, pondera ele, que diz ter achado o
engenho canadense incrível, mas com ressalvas.
“Como
tudo na vida, existe o lado bom e o ruim. Para fins profissionais, as
redes sociais são pontes importantes e para certas profissões, ficar
conectado é necessário. E ainda tem a questão de registrar o momento em
tempo real. É estranho tirar foto no bar e só poder postar em casa”,
alega.
De certa forma, celulares e
tablets incomodam até quando são executados por ele mesmo, destaca o
universitário Alailson Santos. “Às vezes me pego desligado do ambiente
em que eu estou, e quando volto perdi algo, seja um assunto ou uma
pergunta. É interessante ter um fator externo que evite esse hábito
falho que todos temos. Parando pra pensar, se eu não tenho Internet no
celular, nem toco no aparelho. Mas não frequentaria muito um lugar sem
Wi-fi”, coloca Santos.
Outros tempos
Nas
gerações mais antigas, é comum repudiar o contato de duas ou mais
pessoas que, mesmo estando no mesmo local que as outras, insistem em
conversar por mensagens no celular. É o caso da professora aposentada
Ana Simões. Aos 77 anos, ela afirma não enxergar motivos para se
integrar ao Facebook ou WhatsApp.
“Me
reúno aos domingos com um grupo de amigas, e sempre me incomodo ao
vê-las conversando entre si, pelo celular. Acho feio este tipo de
prática. É por isso que não quero ter redes sociais, mesmo com meus
amigos insistindo para que eu tenha. Hoje você não conversa mais. Nos
chás ou festas, o hábito de tirar o celular do bolso e ficar clicando o
tempo todo não me atrai”, afirma ela.
Alimento como união
Em
Manaus, a Bárbaros Confeitaria recebe os clientes com a seguinte
mensagem: “Aqui não temos Wi-fi, nem televisão. Aqui temos olho no olho,
conversas e risadas”. A necessidade de um anúncio bem explícito se deve
a um cliente que, certa vez questionou com rispidez o fato de a casa
não possuir tais redes, segundo o proprietário Maurício Pardo.
“Quando
ele perguntou, dissemos que não tínhamos Wi-fi, mas que tínhamos
comida”, destaca ele, que se posiciona contra tudo o que interfere na
atenção dedicada à comida. “Antes da comida, existe o que unia os
homens, que é o fogo. O fogo começou a unir os homens para a produção de
alimento. Já a tecnologia é ambivalente: tem a capacidade de aproximar
afastando”, encerra.
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